O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) diz ter descoberto um esquema montado pela mulher de um empresário da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, para roubar toda a fortuna do milionário, usando um terreiro de umbanda para lavar dinheiro.
Segundo os investigadores, Wilde Pinheiro de Lima, de 88 anos, que atuou no ramo de refrigerantes, vinha sendo sedado e induzido a transferir todo o patrimônio, avaliado em R$ 27 milhões, para Wandrea Sobreiro, de 49 anos, com quem era casado, como mostrou o Fantástico neste domingo (6).
Apesar das suspeitas, a mulher ainda vive na cobertura do ex-marido, na Praia da Barra, avaliada por corretores em R$ 3,5 milhões. Foi de lá que Wilde foi resgastado pela polícia, após cerca de cinco anos sendo impedido de ter contato com a família. Ele foi encontrado com sinais de maus-tratos e desnutrido.
As transferências bancárias induzidas pela mulher, segundo o PM, eram feitas em formato de doações religiosas a um terreiro de umbanda e aconteciam da seguinte forma:
– Wandrea descobriu que Wilde tinha uma fortuna guardada no banco;
– Ela começou a dar medicamentos sedativos para o empresário capazes de causar confusão mental;
– Depois de dopar o empresário, Wandrea pedia para ele assinar cheques, que eram usados para transferir dinheiro da conta dele para a conta dela;
– A prática se repetiu, segundo MP-RJ, durante dois anos;
– A segunda parte do plano de Wandrea era repassar para cinco pessoas o dinheiro doado ao terreiro de umbanda.
Doações a ‘Exu’ e ‘Ogum’
Mãe de santo do terreiro, Genise Silva recebeu dois depósitos que totalizaram R$ 12 milhões em setembro de 2013. Nos dois documentos, havia a mesma exigência: Genise teria a obrigação de repassar o dinheiro para o terreiro umbandista Rompe Mato. Segundo o MP, era um esquema de lavagem de dinheiro.
O dinheiro do empresário também foi usado para Wandrea comprar imóveis: ela adquiriu dois apartamentos e duas salas comerciais. Os valores dessas transações chegaram a R$ 1,5 milhão.
A família do empresário procurou o Ministério Público. Em 2016, Wandrea foi convocada para prestar depoimento na delegacia. Foi a oportunidade que a família teve para tirar Wilde do apartamento.
Resgatado por policiais, o empresário foi morar com a filha do primeiro casamento e sobrevive com uma renda – R$ 10 mil – que sai da conta da mãe de santo Genise.
“Ela transferiu todo o patrimônio dele. Ele não tem absolutamente nada na conta. Um sujeito que tinha seguramente, em 2013, uns R$ 21 milhões na conta. Não tem dinheiro nenhum, e hoje a Justiça autorizou que ele recebesse R$ 10 mil desse dinheiro bloqueado na conta dos investigados nesse processo para que ele pudesse custear minimamente a vida com medicamentos e outras coisas básicas”, explicou o promotor.
Wandrea ficou morando na cobertura, que está no nome da filha que teve com Wilde, mas a família entrou na Justiça com um pedido de investigação de paternidade.
“O total desviado, eu acredito, que esteja estimado em torno de R$ 27 milhões. Na conta do terreiro, R$ 16 milhões. Na conta de outros denunciados, inclusive já tem denunciado que morou na comunidade da Rocinha que teve uma movimentação de R$ 5 milhões”, explicou o promotor.
Desvios começaram após o casamento
O relacionamento de Wilde e Wandrea começou em 2011, após o empresário se separar da mulher com quem ficou casado por 30 anos. Na ocasião, Wilde tinha 80 anos, e Wandrea, 42.
“A coisa foi crescendo, essa dificuldade foi aumentando, até um dado momento em que eles não conseguiam mais encontrar com o pai”, explicou o advogado do empresário, Marcus Crissiuma.
De acordo com o advogado, os filhos do empresário pensaram numa possível interdição e a partir daí se iniciou uma investigação dos órgãos públicos para entender se havia alguma procuração concedida a alguém. Buscavam entender o sumiço de imóveis e tudo o que estava se passando.
Os suspeitos não quiseram gravar com a equipe de reportagem.