Futuro do Parque Morro do Baú em Ilhota é incerto

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Logo na entrada do Parque do Morro do Baú há um prédio que já não tem mais telhado, portas ou qualquer sinal de cuidado – para se ter ideia o pouco que sobrou da estrutura de cobertura foi invadido por bromélias. Não há portão, grade ou correntes impedindo a passagem de pessoas no local e tampouco controle de quem entra ou sai de lá. O cenário do parque – que remete à tragédia de 2008 – ainda não tem data para mudar.


Quase uma década após o deslizamento de terra que matou 29 pessoas na localidade de Ilhota a esperança de revitalizar o parque e garantir a preservação da área ambiental ainda não saiu do papel. No ano passado um decreto-lei criou o Parque Natural Municipal do Morro do Baú, mas segundo a Fundação do Meio Ambiente (Fatma) o plano de aplicação – que detalha as mudanças e melhorias que precisam ser feitas na área de preservação ambiental – está sendo remodelado mais uma vez pela prefeitura de Ilhota, um pedido que veio da nova gestão.

— O que foi pensando não atendia o que era necessário ser feito no local — observa o secretário de Turismo de Ilhota, Joel José Soares.

Segundo a prefeitura o prazo de entrega deste planejamento – que depois precisa ser aprovado por uma comissão da Fatma – é agosto. O primeiro passo, segundo a Fatma, seria comprar o imóvel que hoje pertence ao Herbário Barbosa Rodrigues, administrador da área.

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O presidente da Fatma, Alexandre Waltrick Rates, salienta que os recursos podem ser utilizados exclusivamente para criação, manutenção, gestão e embargo de conservação:

— Nós não podemos e nem vamos liberar recurso para criação de acesso ou entorno do parque, isso não é de responsabilidade da Fatma. (O Morro do Baú) é área importante para conservação ambiental — explica.

O ambientalista e colunista do Jornal de Santa Catarina, Lauro Bacca, ressalta que o Brasil vive o momento da criação de parques e Ilhota e a região precisam aproveitar esse público, que tem buscado cada vez mais a contemplação do verde. Ele cita que após a implantação de normas mais rígidas no Morro do Spitzkopf, o número de visitantes cresceu – no ano passado 8 mil visitantes passaram pelo local ao Sul de Blumenau.

— O público brasileiro tem visitado cada vez mais áreas reservadas para conservar a natureza. A população está mais urbana, com pouco verde. As cidades estão se verticalizando e existe uma geração quase sem verde. Então, realmente, é o momento de visitação, de arrecadação — avalia.

No total, R$ 2,4 milhões serão aplicados na reforma do parque por meio da compensação ambiental pela instalação da fábrica da BMW em Araquari. Há verba de uma segunda compensação, referente à duplicação da BR-470, no valor de R$ 250 mil.

Por que ainda não há mudança no Parque Morro do Baú?

Assim como mudanças no parque ainda são incertas, não é possível saber o que será feito no local, ao menos não por enquanto. Ao ser indagada sobre as possibilidades e atrativos em potencial, a presidente da Associação Catarinense de Preservação da Natureza (Acaprena), Rosane Hiendlmayer, sugere que ocorram visitas orientadas por profissionais no local:

— Com a visita guiada as pessoas teriam conhecimento botânico, de aves, da fauna. É difícil ver mamíferos nestas caminhadas, principalmente em grupo maior, mas só pelo fato de contemplar a natureza e respirar um ar puro isso faz bem para a saúde. Pode ser um programa em família, algo que vai fazer as pessoas entrarem em outro universo, em outro local — sugere.

O ambientalista Lauro Bacca destaca que a categoria parque pressupõe acesso ao público. Então é preciso ter visitação e lazer junto a natureza, pesquisa científica e educação ambiental, com participação das escolas e da própria população.

— É o momento realmente da prefeitura tomar uma atitude e fazer desse parque uma coisa certa desde o começo. Pode ter atrativos, mas compatíveis com a natureza. Pode ter uma tirolesa, um rapel na cachoeira – que não fazem mal a natureza – e que precisam da natureza para isso, mas nada que vá além da contemplação — frisa Bacca.

Cada unidade de conservação tem os seus potenciais, mas cabe aos gestores encontrar o que possui, ressalta a presidente da Acaprena.

— Há um sítio geo-arqueológico na área, com potencial de estudo também. Se o local ainda não faz parte do cicloturismo, a região tem potencial e acredito que a prefeitura também poderia incentivar os moradores a criar um local de venda de produtos coloniais, pousadas na comunidade – observa Rosane.

O PARQUE

– Foi criado em 1961 pelo botânico e fundador do Herbário Barbosa Rodrigues, Padre Raulino Reitz.

– Ao todo são 750 hectares de extensão.

– A altitude mínima é de 217 metros, no início da trilha, e a máxima é de 815 metros.

– Ficou marcado como epicentro da tragédia que matou 135 pessoas em Santa Catarina em novembro de 2008, 29 somente no local.

RELEMBRE:

– Em 2012, quatro anos após ser tomada pela avalanche de lama, a área é abandonada.

– Em 2013, a Pequena Central Hidrelétrica Passos Maia começa a negociar com o Herbário Barbosa Rodrigues a compra da área para doá-la à Fatma como compensação.

– Em novembro de 2013, o Ministério Público é contrário à compra por entender que os recursos têm de ficar no Oeste de Santa Catarina.

– Em agosto de 2014 a Fatma determina que Ilhota receba a compensação ambiental do Estaleiro P2 (R$ 1 milhão), instalado em Itajaí. O projeto fica parado com os vereadores e o recurso é perdido.

– Em fevereiro de 2015 o então prefeito de Ilhota, Daniel Bosi, assina um decreto-lei para a criação do Parque Natural Municipal do Morro do Baú.

– Em janeiro de 2016 a prefeitura de Ilhota entrega à Fatma versão do plano do parque no Morro do Baú.

– Em fevereiro de 2017 a Secretaria de Turismo de Ilhota refaz o plano de trabalho, com previsão de ser entregue à Fatma em agosto deste ano.

 

 

Por Pamyle Brugnago
O Sol Diário

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