Saiba o que esperar da economia em Santa Catarina e no Brasil em 2018

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Depois de três anos andando de marcha a ré, o Brasil parece estar pronto para voltar a trilhar o caminho do crescimento. Os principais indicadores da economia apontam que a crise se dissipa ao mesmo tempo em que se abrem perspectivas mais animadoras para o futuro.

Ainda que em ritmo lento, a taxa de desemprego começou a recuar, a inflação se mantém sob controle – até um pouco abaixo do que se esperava –, a taxa de juros também vem diminuindo e o varejo dá sinais de que o até então desconfiado consumidor está mais propenso a abrir a carteira. Em Santa Catarina, os números são ainda mais positivos do que a média nacional. A conjuntura soa ideal, mas no meio empresarial e no mercado financeiro o discurso é de cautela e a ordem é evitar euforia.

– A saída dessa longa e profunda recessão foi talvez mais lenta do que alguns imaginavam, subestimando a gravidade dela própria. Esse movimento não significa que a economia está pronta para um crescimento fulminante a partir de agora – pondera o economista Gustavo Franco, um dos integrantes da equipe que elaborou o Plano Real.

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Ex-presidente do Banco Central entre 1997 e 1999, ele compara o país a um paciente que acaba de sair de uma situação clínica crítica e fala em um “ambiente de desintoxicação” após um duro triênio. A crise, que aparentava ser apenas econômica, foi contaminada com o vírus da instabilidade política e institucional a partir do pós-eleições de 2014. A doença se espalhou com os sucessivos terremotos que sacudiram Brasília e culminaram em um processo de impeachment e dezenas de parlamentares, ministros e integrantes do Executivo nos holofotes da corrupção investigada pela Operação Lava-Jato.

Entre mortos e feridos, o Brasil se manteve de pé, mas terá agora que reverter um legado de três anos de economia ladeira abaixo. Entre 2015 e 2016, o Produto Interno Bruto (PIB) despencou 7,2%, a maior recessão desde a década de 1930. Mesmo que as previsões de avanço para 2017, que não passam de 1%, confirmem-se, seriam necessários de dois a três bons anos, com resultados bem melhores, para que o país ao menos retome os índices pré-crise.

– Isso não é obra para um governo. Certamente precisaremos de dois governos, no mínimo, para termos condições de dizer que o país retomou a trajetória de crescimento sustentável – avalia o presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina, Glauco José Côrte.

Medidas de emergência para reanimar paciente

Por ora o mercado se agarra a medidas de curto prazo que podem melhorar as condições para a tão aguardada guinada. Como o cobertor do governo é curto, o pacote de concessões, apesar de ainda não ter deslanchado como se esperava, é visto como a (talvez única) oportunidade de propiciar investimentos em infraestrutura que garantam novo impulso à competitividade do setor produtivo.

Há também a reforma trabalhista, que passa a valer neste fim de semana. Para o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, ela vai, em um primeiro momento, favorecer a formalização no mercado de trabalho para em seguida contribuir para aumentar a criação de empregos, pois “haverá sensível redução dos riscos de contratar pessoas”. Ainda assim, é preciso mais.

– Para uma recuperação mais vigorosa, dependemos de um novo ciclo de investimentos e ganhos de produtividade, quase impossível de acontecer ainda no atual período de governo – ressalta.

Futuro político do país cria cenário de incerteza

É o futuro político, justamente, o fator que mais ameaça o vigor dessa retomada e causa maior apreensão no mercado. Num cenário ameno, a consolidação da restauração dos indicadores econômicos poderia ocorrer naturalmente no próximo ano. Mas 2018 será marcado por eleições e há um risco que não pode ser ignorado de que o país fique congelado até a escolha de um novo Congresso e a definição sobre quem ocupará a cadeira de presidente. Não seria, afinal, a primeira vez que isso aconteceria.

Legendas já se articulam visando a formação de alianças e boa parte da atual equipe do Palácio do Planalto deve sofrer mudanças a partir de abril, vencido o prazo de desincompatibilização e filiação partidária, colocando em xeque a continuidade de ações já iniciadas. Há quem aposte que dentro dessa conjuntura de preocupação de construção de candidaturas a reforma da Previdência, considerada essencial dentro do plano de ajuste fiscal, seja votada apenas em 2019.

– Eleições presidenciais costumam aumentar a volatilidade da economia. Essa não será diferente – opina o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega.

Nomes como os do ex-presidente Lula e do deputado federal Jair Bolsonaro já despontam nas primeiras pesquisas de intenção de voto à Presidência. Embora haja certo consenso que ambos devem apaziguar o discurso mais radical com a proximidade das eleições, por enquanto o mercado se ressente da ausência de uma candidatura viável de perfil moderado e centrista, que seja capaz de dar sequência ao plano de reformas que tire o Brasil do atoleiro, mas que tenha habilidade para negociar com os extremos.

Por outro lado, é também uma unanimidade de que há muito chão pela frente e que tudo pode mudar completamente nos próximos meses. Para o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, o cenário de momento ilustra uma mera questão de popularidade, com pouco significado.

Ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Roberto Troster observa que o processo eleitoral sempre inicia com um tom mais elevado e que não se pode “colocar a carroça na frente dos bois”.

– Estamos mudando a ordem dos fatores, avaliando candidatos e não planos de governo – considera, indicando que qualquer análise mais aprofundada do cenário futuro só poderá ser feita com mais clareza a partir do lançamento oficial das campanhas.

 

Por: Pedro Machado – Diário Catarinense

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