Antônio Lopes – O olhar do outro

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Bom dia!
Vamos olhar a vida com todos os olhos do mundo para compreendermos a grande diversidade humana.

Abraços


O olhar do outro

Uma jovem, que há tempos tinha dificuldade em interagir com o pai, queria tanto que houvesse uma oportunidade para conversarem e poder falar dos seus medos, seus projetos e fantasias, mas não encontrava receptividade. Para ela, ele estava sempre ocupado e tinha conceitos e preconceitos absolutos e inflexíveis. Não tinha então com quem compartilhar seus sonhos e com isso havia um distanciamento na relação familiar. Um determinado dia precisou viajar de carro com ele e pensou: “Vai ser uma ótima oportunidade para nos compreendermos”.
Durante a viagem, seu pai lhe disse: “Olhe o riacho que está no lado, está poluído, sujo”. Ela olhou e viu um riacho limpo, de águas claras, lindo e pensou: “Não tem jeito mesmo, ele nunca vai me compreender. Ele vê dificuldades e sujeira e eu vejo a beleza da vida, o que parece ruim para ele parece bom para mim”. Passados os anos, ela adulta, fez uma viagem na mesma estrada com uma amiga e estava dirigindo quando olhou o riacho e se espantou, pois estava sujo e poluído, e comentou com a amiga. A amiga olhou e disse: “Mas o riacho está limpo e lindo”. Ela então entendeu que quando o seu pai falou, ele estava dirigindo, estava do lado esquerdo e ela do lado direito, portanto, ela só viu o lado dela e não o dele. Ela sentiu uma tristeza profunda, pois seu pai já estava morto e não podia mais conversar com ele, não tinha como reparar.

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É assim, nós só temos olhos para a nossa janela, e o que a gente vê é o que vale, não importa que alguém bem perto esteja vendo diferente. A mesma estrada para uns é infinita, para outros é muito curta. Boa parte dos brasileiros acredita que o país está melhorando, enquanto que a outra perdeu totalmente a esperança. Alguns se fascinam com a tecnologia, com o crescimento da cidade e com o Big Brother, enquanto outros lamentam que as relações humanas estejam tão frias, que as famílias estejam se distanciando dos seus valores.

Cada um gruda o nariz na sua janela, na sua própria paisagem. Dependendo de onde se esteja, a razão pode estar do nosso lado, mas assim que mudamos de lugar, a perdemos totalmente. Pais, filhos, amigos, namorados, lideranças sempre estão ao lado de realidades diferentes e infelizmente prevalece o julgamento sem piedade, com imposição de penalidades e exclusão preconceituosa.

Aprender a ouvir, desgrudar o nariz da sua janela e olhar na janela do outro é sabedoria que promove o amor e a paz entre as pessoas. Estabelecer empatia é enxergar o que o outro enxerga e sentir o que ele sente. Para isso, é preciso aprender a viver sem julgamentos e conclusões precipitadas, procurando entender qual é a situação e o olhar do outro.

Antônio Lopes
Psicanalista Didata

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