Artigo: A UFSC vai parar?

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Por um momento, a reforma da previdência perdeu o monopólio das discussões políticas e econômicas no Brasil. Nos últimos dias, o concorrente da reforma há muito adiada é o bloqueio de recursos destinados às instituições federais de ensino superior promovido pelo MEC.

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Como não poderia deixar de ser, uma das afetadas pela medida é a UFSC, que teve R$ 60 milhões bloqueados — algo em torno de 3,4% do total de seu orçamento (de aproximadamente R$ 1,8 bilhão). Um percentual tão pequeno não chamaria tanto a atenção se não fosse a declaração de seu próprio reitor que universidade conseguiria manter suas atividades somente até outubro caso o bloqueio fosse mantido.

Embora pareça desproporcional, a manifestação do reitor lamentavelmente faz sentido, uma vez que se insere num espectro nebuloso chamado orçamento público, no qual o absurdo e a realidade se confundem em sucessivas tragédias. O fato é que o bloqueio de R$ 60 milhões incide, sobretudo, nas despesas de custeio — ou seja, luz, água, telefone, combustível — da universidade, que em 2018 foi de R$ 327 milhões, ou 18,9% do total.

Mas então, se proporcionalmente tão pouco é o que parece fazer a roda girar na UFSC, a que se destina os outros quase R$ 1,5 bilhão?

Despesas com pessoal. Em primeiro lugar, cabe destacar os gastos com a previdência social, que superaram R$ 500 milhões em 2018 — ou seja, em torno de 30% do orçamento.

Na sequência, também é importante salientar que a UFSC gastou R$ 893 milhões com servidores. Ou seja: os mais de 6 mil servidores ativos da universidade custam, em média, R$ 11 mil por mês.

Se a foto assusta, o filme é ainda pior. O orçamento previsto para 2019 é quase R$ 50 milhões maior do que o orçamento executado em 2018. Desse valor, o aumento no valor destinado à previdência corresponde a aproximadamente R$ 45 milhões.

Dessa forma, a UFSC pode até parar. No entanto, se isso de fato acontecer, parece que será porque a universidade falhou ao eleger suas prioridades. Preferiu se opor à reforma da previdência; preferiu se omitir diante do inchaço do seu próprio quadro de funcionários; se a conta não fechasse, preferiu, portanto, parar.

 

Por Pedro Tavares Fernandes

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