O documento de 82 páginas com a delação à Justiça de Cláudio Melo Filho, ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht e um dos primeiros da empresa a depor, cita a cúpula do governo federal: o presidente Michel Temer (PMDB), os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL), o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB-CE), o secretário de Parceria e Investimentos do governo Temer, Moreira Franco (PMDB), entre outros.
A lista traz o nome de mais de 20 políticos, que receberam dinheiro da empresa para realizar campanhas políticas e muitas vezes devolviam o favor aprovando medidas legislativas que favoreciam a empreiteira.
Na lista do “departamento de propinas”, os políticos apareciamm representados por codinomes, em negociações ocorridas entre 2005 e 2015.
Veja quem são e do que são acusados esses personagens:
Romero Jucá (PMDB-RR) – “Caju”
Melo Filho aponta Jucá, ex-ministro do Planejamento de Temer e apelidado de “Caju”, como o principal responsável pela arrecadação do PMDB, centralizando a distribuição de mais de R$ 22 milhões, quantia paga pelo delator em nome da Odebrecht, dentro do partido.
O delator diz que Jucá era seu principal interlocutor no Congresso e teria cumprido esse papel ao apoiá-lo em pelo menos 12 atos ou propostas legislativas. Além disso, antecipava “atuações de deputados” contrários aos interesses da empresa.
Outro lado: Romero Jucá afirmou que desconhece o teor da delação de Cláudio Melo Filho e negou que recebesse fundos pelo partido.
Renan Calheiros (PMDB-AL) – “Justiça”
Segundo Melo Filho, Renan atuava em apoio à Odebrecht nos mesmos casos que envolveram Romero Jucá, e também era destinatário do dinheiro pago pela empresa. Ele diz que interagiu algumas vezes diretamente com o atual presidente do Senado, mas que na maioria das vezes atuava sob a representação de Jucá. “Eu sempre vi no senador Romero Jucá a presença intrínseca da figura do senador Renan Calheiros”, disse o delator.
De acordo com o delator, Renan, sob o codinome “Justiça”, recebeu R$ 500 mil da empresa como “contribuição financeira” em 2010. Melo Filho conta também que Renan pediu diretamente a ele que a empresa contribuísse com a campanha de seu filho Renan Filho, ao governo de Alagoas em 2014 – a Odebrecht acabou doando cerca de R$ 2,3 milhões.
Outro lado: Renan Calheiros disse que jamais autorizou ou consentiu que falassem em seu nome em negociações desse tipo.
Eunício Oliveira (PMDB-CE) – “Índio”
Atual líder do governo no Senado, Eunício é apontado como parte do núcleo do PMDB na Casa, ao lado de Jucá e Renan, e também atuava como interlocutor da Odebrecht no Senado. Eunício teria recebido R$ 2 milhões da empresa para aprovar uma medida provisória.
Outro lado: Eunício Oliveira afirmou que todos os recursos recebidos foram declarados e aprovados pela Justiça Federal.
Eliseu Padilha (PMDB-RS) – “Primo”
O ministro-chefe da Casa Civil de Temer, chamado de “Primo”, é apontado por Cláudio Melo Filho como aquele que “concentra as arrecadações financeiras” do PMDB na Câmara – Padilha foi deputado federal entre 2003 e 2014 – para repassar internamente no partido.
Melo Filho diz que Temer agia de forma indireta e que Padilha seria seu representante junto às empresas. O delator relatou vários encontros com o atual ministro-chefe da Casa Civil.
O executivo ainda afirmou que Temer solicitou um pagamento a Marcelo Odebrecht, no valor de R$ 4 milhões, e quem intermediou o negócio foi Padilha. Atendendo outro pedido direto de Temer ao vice da Odebrecht, a empresa decidiu pagar R$ 10 milhões ao PMDB para as campanhas eleitorais de 2014 – R$ 6 milhões a Paulo Skaf, candidato do partido ao governo de São Paulo na época, e R$ 4 milhões a Padilha. Parte desse dinheiro, de acordo com o executivo, terminou com Eduardo Cunha.
Outro lado: O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, lembrou não ter sido candidato a cargos eleitorais em 2014 e disse que nunca tratou de arrecadação para deputados com ninguém. Ainda foi enfático ao afirmar que “a acusação é uma mentira!” e disse ter certeza de que isso será comprovado.
Moreira Franco (PMDB-RJ) – “Angorá”
Segundo Melo Filho, Moreira Franco, secretário de Parcerias de Investimentos de Temer e ex-deputado federal, também era “arrecadador” do PMDB na Câmara, “em menor escala” em relação a Eliseu Padilha, e atuava como representante de Temer.
O executivo afirmou que Moreira Franco, quando era ministro da Aviação Civil do governo Dilma Rousseff, em 2014, solicitou uma contribuição financeira da Odebrecht para as campanhas do PMDB durante uma reunião na própria Secretaria da Aviação Civil, onde foram tratados temas relativos à atuação da empresa no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro.
Esse pedido foi reforçado depois por Eliseu Padilha, sucessor de Moreira Franco na pasta. “O fato é que pagamentos ocorreram em razão de um pedido feito por um ministro de Estado em ambiente institucional e por ocasião de uma reunião de trabalho”, diz os termos da delação.
Outro lado: Moreira Franco declarou que a acusação é mentirosa e que nunca tratou de assuntos de verbas com o executivo da Odebrecht.
Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) – “Babel”
Apontado como outro membro influente do PMDB na Câmara, “interagindo com agentes privados para atender seus pleitos em troca de pagamento”, Geddel, ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo de Temer, tinha relação pessoal com o delator Cláudio Melo Filho, que se tornou o principal interlocutor do ex-deputado na Odebrecht.
O executivo afirmou que transmitia pedidos a Geddel “sem constrangimentos. “Geddel recebia pagamentos qualificados em períodos eleitorais e em períodos não eleitorais. E fazia isso oferecendo contrapartidas claras”, diz os termos da delação.
Estão citadas na delação do executivo doações da Odebrecht a Geddel nas campanhas eleitorais de 2006 (R$ 1 milhão), 2008 (valor não especificado), 2010 (R$ 1,5 milhão) e 2014 (R$ 2,4 milhões), todas elas intermediadas por Melo Filho. “Apesar dos pagamentos frequentes, Geddel sempre me disse que poderíamos ser mais generosos com ele”, disse o executivo.
Outro lado: O ex-ministro Geddel Vieira Lima afirmou que as doações da Odebrecht em suas campanhas estão declaradas à Justiça Eleitoral.
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – “Caranguejo”
Melo Filho cita a proximidade de Cunha com a Odebrecht, principalmente por meio de Henrique Valladares, presidente do setor de energia da empresa, e diz que não foi o responsável por intermediar os pagamentos que constam nas planilhas ao nome “Caranguejo”, que identifica o ex-deputado. O executivo diz, no entanto, que a empresa doou R$ 7 milhões a Cunha em 2010 “supostamente destinados à campanha eleitoral” do ex-deputado.
Outro lado: O advogado do ex-deputado Eduardo Cunha, Pedro Ivo Velloso, disse que refuta “veementemente” qualquer suspeita relacionada ao tema.
Rodrigo Maia (DEM-RJ) – “Botafogo”
Segundo Melo Filho, em relação a Maia, apelidado de “Botafogo”, foi acordado o pagamento de R$ 7 milhões para diversos políticos para facilitar a tramitação de uma MP de interesse da Odebrecht. Segundo o ex-executivo, na fase final da aprovação da MP, Maia o procurou para pedir apoio no pagamento de pendências da campanha para a prefeitura do Rio, em 2012.
“Solicitou-me uma contribuição e decidi contribuir com o valor aproximado de R$ 100 mil, que foi pago no início do mês de outubro de 2013. Referido parlamentar era visto por mim como ponto de interlocução dentro da Câmara dos Deputados na defesa dos interesses da empresa.”
Maia também solicitou diretamente a Melo Filho, de acordo com o delator, uma contribuição para sua campanha eleitoral em 2010, recebendo da Odebrecht uma doação de R$ 500 mil.
Outro lado: Em nota, a assessoria do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirma que todas as doações eleitorais recebidas foram legais e devidamente declaradas ao TSE. “O deputado nega com veemência a acusação de ter participado de qualquer tipo de negociação com a Odebrecht para aprovação de medida provisória ou de outra proposta legislativa. Ele afirma que as declarações veiculadas pela imprensa são absurdas e que nunca recebeu nenhuma vantagem indevida para votar qualquer matéria.”
Jaques Wagner (PT-BA) – “Polo”
Melo Filho afirma que não mantinha relação com o PT, mas tinha contato pessoal com o ex-governador da Bahia e ex-ministro da Casa Civil de Dilma Rousseff Jaques Wagner. Wagner recebeu doações da Odebrecht em 2006 (cerca de R$ 3 milhões) e 2010 (aproximadamente R$ 7,5 milhões). O executivo intermediou essas doações e, em troca, diz ter conseguido apoio do governo da Bahia na resolução de questões que interessavam à empresa no Estado.
Sob o codinome “Polo”, Wagner ainda recebeu relógios como presente da empresa em dois aniversários. Em um deles, em 2012, ganhou um Hublot modelo Oscar Niemeyer, com a foto do Congresso Nacional ao fundo, e noutra ocasião recebeu um da marca Corum, modelo Admiral’s Cup. Na internet, os relógios são cotados a um valor aproximado de R$ 65 mil e R$ 11 mil, aproximadamente.
(Por UOL)
*Com informações da Agência Estado