Camboriú sediou seu primeiro amistoso de futebol de salão para cegos

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O placar pontuou a favor do time visitante, mas no primeiro amistoso de futebol de salão para cegos – realizado nesta quarta-feira, dia 23, em Camboriú –, todos comemoraram a vitória da inclusão. Depois de uma disputa acirrada, a seleção que vestia a camisa do Camboriú FC – formada por atletas de diferentes cidades da região – acabou perdendo as duas partidas contra a Associação Catarinense da Pessoa com Deficiência Visual (ACPDV), de Florianópolis: a primeira por 0 x 1 e a segunda por 0 x 2. De acordo com Alexandre Cordeiro, jogador pelo Cambura e idealizador do amistoso, o placar importava bem menos do que a chance de integração com a comunidade. A competição fez parte da programação preparada pela Prefeitura para marcar a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência – celebrada em todo o Brasil do dia 21 a 28 de agosto.

Marcos Pires, técnico do time da ACPDV, explica que esse foi o primeiro campeonato disputado pela equipe, que treina há cerca de um ano. Enquanto técnico de futebol para cegos, Pires já participou de disputas nacionais e garante que seu time atual também tem potencial para chegar lá. “Quando começamos a treinar com essa equipe, nosso primeiro objetivo era o lazer. Mas depois fomos evoluindo e aí querendo mais. O problema é que em Santa Catarina nós éramos até agora um dos únicos times de cegos jogando futebol de salão. Com a formação dessa equipe de Camboriú, ficou melhor porque vamos poder jogar mais”, diz.

Segundo o técnico, a maior dificuldade da prática de futsal por jogadores cegos é a estrutura da quadra, que precisa ser adaptada com tapumes nas laterais. “Queremos sensibilizar a sociedade para que ofereça estrutura e apoio contínuos ao esporte praticado pelas pessoas com deficiência. Quase quatro por cento da população brasileira declara deficiência visual. Onde estão essas pessoas? Nossa meta é que partidas como essa não sejam uma exceção, mas uma prática comum”, defende. Por isso, no dia 16 de setembro a seleção camboriuense viaja para Florianópolis com a chance de virar o jogo e, quem sabe, levar a melhor em cima da ACPDV numa nova partida, já marcada entre os times.

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Uma aula de inclusão

Os alunos da rede municipal de ensino de Camboriú encheram as arquibancadas durante as disputas do primeiro amistoso de futebol de salão para cegos. Isso porque o evento, organizado pela Secretaria de Educação, integra uma série de atividades programadas para os estudantes durante a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência. A professora Maria Lucia do Nascimento levou os pequenos do pré-escolar II, do CEI CAIC, para o ginásio de esportes com um objetivo: possibilitar às crianças conviverem com a diferença. “A maior importância dessa atividade é que permite aprender a respeitar o próximo nas suas diferenças e descobrir o que ele tem de semelhante à gente”, afirma.

Marcos Alexandre, de 15 anos, estuda no 9º ano da escola municipal Clotilde Ramos Chaves e também foi assistir à partida junto com os colegas de turma. Ele conta que jogou futebol vendado há cerca de um mês, numa atividade realizada na escola para que os alunos pudessem experimentar um pouco das vivências da pessoa com deficiência visual. “É divertido, mas é bem mais difícil. O jogo que assisti hoje foi bem difícil, um desafio. Mas acho importante porque todos têm problemas e todos têm que ter a chance de fazer esporte, independente das dificuldades”, defendeu.

O jogador da ACPDV Tarso Dornelles, de 25 anos, pratica futebol de salão há mais de 10 anos e também defende que o acesso às práticas esportivas deve ser cada vez mais inclusivo. “Fomos muito bem recebidos aqui em Camboriú, que se preocupou em adaptar a quadra para a partida e nos convidar para jogar. Nos divertimos, mas o mais importante é divulgar o esporte, porque o esporte tem que estar disponível para todas as pessoas sempre”, reforça.

Adaptações para jogadores cegos

Uma partida de futebol de salão para cegos exige poucas, mas importantes adaptações. A primeira delas é a bola com guizo dentro, que emite sons quando movimentada para que os atletas possam identificar seu deslocamento e posição. Os jogadores usam tampões oftalmológicos nos olhos, para que ninguém corra o risco de identificar silhuetas e levar vantagem. Outra adaptação necessária é a colocação de tapumes nas laterais da quadra. Alexandre Cordeiro, jogador cego do time camboriuense e um dos organizadores da partida, explica que essa adaptação é fundamental para que não percam tempo excessivo com a cobrança de laterais e o jogo deixe de ser dinâmico.

Além disso, dos 5 jogadores em quadra – conforme regra oficial do futebol de salão –, apenas o goleiro não é cego. Como enxerga, porém, seu movimento é limitado: só pode se deslocar num raio de 1 metro para fora da trave. Por fim, além dos jogadores em quadra, cada time também leva uma sexta pessoa consigo: o Chamador. Sua função é ficar atrás do gol adversário, orientando o ataque de seu time com comandos de voz.

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