Cenário do segundo julgamento de impeachment de Moisés é bem diferente do que o primeiro

Nos corredores e gabinetes da Alesc, o que se especula é que esse segundo processo de impeachment, não deve ir adiante – Foto: Mauricio Vieira/Secom/Divulgação/ND
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Em um cenário político bem diferente do que o do ano passado, o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés da Silva (PSL), volta a enfrentar, nesta sexta-feira (26), o drama do impeachment. Em outubro do ano passado, ele foi afastado do cargo e retornou um mês depois, após ser absolvido pelo Tribunal de Julgamento do impeachment.

Mas a situação agora é outra. Com a experiência vivida em 2020, Carlos Moisés passou a dar uma cara mais política ao seu governo, com a indicação de cargos políticos de deputados estaduais para secretarias estaduais, e a nomeação de indicados da base do governo em todos os níveis, principalmente do MDB e do PP.

No primeiro escalão do governo estão Luiz Fernando Vampiro (PMDB), que comanda a secretaria de Educação; e Altair Silva (PP) na Agricultura. Vampiro, que foi membro do Tribunal Especial de Julgamento, votou pelo prosseguimento da denúncia contra Carlos Moisés no caso do reajuste dos procuradores, que resultou no afastamento do governador no ano passado.

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O MDB – que possui a maior bancada da Alesc, com nove deputados, e o PP – com três parlamentares – têm conquistado outros espaços, em nome de uma “coalizão”, como diz o próprio governador Carlos Moisés. A presença política pode ser vista a cada edição do Diário Oficial com nomeações em vários escalões do governo.

Como o caso da Defesa Civil do Estado, que tem agora no comando, o ex-vereador da cidade de Timbó, David Busarello (MDB), uma indicação do deputado estadual Jerry Comper. No IMA (Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina), assumiu Daniel Vinícius Netto, também indicado pelo MDB. O presidente da Fesporte, Kelvin Nunes Soares, é mais um nome da participação emedebista no governo Moisés. Ele foi indicação do deputado Fernando Krelling, de Joinville.

O PP é outro partido que ganhou força dentro desse “novo” governo Moisés, com a presença dos deputados estaduais Altair Silva, na Agricultura, e José Milton Scheffer como líder do governo na Assembleia.  O partido também comanda a Cidasc (Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina), que tem o ex-prefeito de São José do Cedro, Antônio Plínio de Castro Silva, uma indicação com as mãos de Altair.

O PSL, partido do governador, também tem reivindicado seu espaço.  Em fevereiro, Daniel Netto Cândido, o ex-prefeito de São João Batista, assumiu, por indicação política do partido, o cargo de secretário adjunto da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social (SDS), que tem como secretário, o vereador de Florianópolis, Claudinei Pereira (Republicanos), um afago de Carlos Moisés a bancada evangélica. O PSL ainda tem o ex-prefeito de Chapecó, Luciano Buligon, como secretário do Desenvolvimento Econômico e Sustentável.

Apesar de estar, oficialmente, fora do governo Moisés, o PSD tem o chefe da Casa Civil, Eron Giordani, como presença firme no governo. O mesmo continua fortemente ligado ao deputado Júlio Garcia (PSD), ex-presidente da Alesc.

Apoio contra o impeachment

A escolha dos deputados que compõem o Tribunal Especial de Julgamento do impeachment se desenhou numa articulação política para barrar a abertura do segundo processo de afastamento do governador, que analisa o desvio de R$ 33 milhões com a compra de respiradores, que sequer foram entregues em sua totalidade. O deputado Valdir Cobalchini (MDB), que é um dos cinco parlamentares no Tribunal, é um desses exemplos de troca de acordos entre o governo e a Alesc. O parlamentar ganhou espaço no governo, com indicações para cargos estratégicos.

Mesmo exemplo para o deputado Zé Milton Scheffer, escolhido pelo governador Moisés para ser líder do governo na Alesc, quando já estava indicado como integrante do Tribunal Especial. Motivo pelo qual, o deputado estadual e líder da bancada do PL na Assembleia, Ivan Naatz protocolou ontem, junto ao presidente do Tribunal Especial, desembargador Ricardo Roesler, um pedido de suspeição de Scheffer. Ele pede a suspensão do julgamento até que seja julgado o seu pedido.

Preocupação com a pandemia

Nos corredores e gabinetes da Alesc, o que se especula é que esse segundo processo de impeachment não deve ir adiante. Existe uma preocupação em relação à pandemia do coronavírus no Estado e um receio no qual uma nova troca de comando no governo possa complicar ainda mais o cenário da doença. Santa Catarina encontra-se em colapso por conta da ocupação de leitos de UTI.

“Depois do primeiro processo de impeachment, da absolvição e da indicação de cargos políticos de deputados estaduais para secretarias estaduais, e da nomeação de indicados da base do governo, tanto MDB e PP, todos acabam atados no acordo firmado para dar sustentabilidade ao governo”, analisa o cientista político Eduardo Guerini.

“O governo dele passou a ser fraco, no sentido de não ter voz ativa em relação aos setores que o apoiam. O que se observa hoje é que Moisés não governa, quem governa, é o secretário da Casa Civil, Eron Giordani”, emendou.

ND Online

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