O dólar opera em alta pelo 6º pregão seguido nesta quarta-feira (22), após ter passado na véspera dos R$ 4 pela primeira vez em dois anos e meio, embalado pelo cenário eleitoral, com os investidores repercutindo as primeiras pesquisas de intenção de voto.
Às 10h37, a moeda norte-americana subia 0,60%, vendida a R$ 4,0599. Na máxima do dia até o momento, chegou a R$ 4,0889.
Já o dólar turismo era negociado a R$ 4,24, sem considerar o Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF).
Desde o início do ano, a moeda norte-americana já acumula avançou de mais de 20%. A tendência de alta, que havia perdido fôlego a partir de junho, voltou a ganhar força em agosto em meio às incertezas eleitorais e cenário externo menos favorável, fazendo o dólar saltar de cerca de R$ 3,70 para os atuais R$ 4.
O mercado cambial no Brasil opera nesta quarta na contramão do exterior, onde a moeda norte-americana cedia ante uma cesta de moedas e divisas de países emergentes, como os pesos chileno e mexicano.
O peso da incerteza eleitoral
Investidores têm comprado dólares em resposta a pesquisas que mostram uma fraqueza de candidatos voltados a reformas alinhadas com o mercado. A busca pela moeda indica que o mercado prefere ativos mais seguros em momentos de incerteza, o que leva ao enfraquecimento do real.
“Quanto mais próximas estiverem as eleições, maior será a volatilidade do câmbio”, prevê Indech, que considera que a moeda ficará ainda mais instável quando começar a propaganda eleitoral na televisão, quando se acredita que o tempo de exposição dos candidatos pode influenciar a decisão do eleitorado.
Alvaro Bandeira, sócio e economista-chefe da Modalmais, vê o avanço da moeda nesta terça-feira como uma resposta do mercado à percepção de que o segundo turno não terá candidatos voltados a propor reformas fiscais.
“Não dá para descartar a possibilidade de o dólar ir a R$ 4,50 e até a R$ 5 neste cenário. Tudo vai depender do que será definido para o segundo turno”, aponta Bandeira.
Ele também vê a possibilidade de a moeda americana voltar para um patamar mais baixo, em torno de R$ 3,70, caso outras pesquisas mostrem chances maiores de algum candidato reformista figurar no segundo turno.
Luis Gustavo Pereira, estrategista-chefe da Guide Investimentos, trabalha com a possibilidade de um dólar entre R$ 4,25 e R$ 4,27 nas próximas semanas.
A piora das tensões comerciais entre os Estados Unidos e outras potências também tem ajudado a desvalorizar o real e outras moedas emergentes, de países como Turquia e Argentina.
Outro fator que pressiona o câmbio é a elevação das taxas básicas de juros nas economias avançadas como Estados Unidos e União Europeia, o que incentiva a retirada de dólares dos países emergentes.
Depois de manter os juros num patamar baixo por muitos anos para estimular o crescimento econômico, os principais países estão fazendo o movimento contrário em meio a um aumento da inflação. O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), por exemplo, já aumentou a taxa de juros duas vezes este ano e deve, segundo os economistas, elevar mais duas até dezembro. Neste mês, a Inglaterra colocou os juros no patamar mais alto desde 2009.
Real é a 7ª moeda que acumula a maior desvalorização no ano
As moedas dos países emergentes estão entre as que mais se desvalorizaram neste ano, segundo ranking com 140 países feito pelo economista da Austin Rating, Alex Agostini. O real é a 7ª moeda que mais perdeu valor na comparação com o dólar em 2018 até o fechamento da véspera dos mercados.