A empresa surgiu quase por acaso. Tiago e Rodrigo Marin são primos e foi entre família que a ideia veio à tona. Outro primo deles, então com 11 anos, chamou os dois para ver um vídeo na internet sobre uma “máquina incrível” que produzia objetos. Era uma impressora 3D, que na época, 2011, era novidade no Brasil.
Eles já estavam querendo empreender, e o pai do garoto, também empresário, sugeriu que Tiago e Rodrigo começassem o negócio incubados na empresa dele. Surgiu assim a Wishbox, que desde então passou por altos e baixos e desde o ano passado, após uma mudança na estratégia de marketing, começou a conquistar clientes de todo Brasil.
Segundo Rodrigo, quando começaram, em 2011, eram praticamente os únicos a importarem esses equipamentos e oferecerem ao mercado brasileiro. Por isso, entre 2013 e 2014 a empresa registrou um crescimento de 300%. “Só que aí começaram a aparecer concorrentes e a situação econômica do país começou a piorar”, conta Rodrigo.
Nessa época, empresa já estava com 12 funcionários, um custo alto de funcionamento e as vendas despencando. Era tantos desafios que Rodrigo só conseguia imaginar um destino: fechar a empresa.
“Lembro de ter procurado um cliente que disse ‘Rodrigo, você está tentando vender um produto para a área de desenvolvimento, mas a empresa demitiu todo mundo dessa área. Agora é só produção para tentar sobreviver à crise”, conta o empresário que, apesar do impacto, decidiu fazer um plano para resistir até onde fosse possível..
Foi aí que ele e o sócio começaram a estudar as estratégias de marketing das empresas do Vale do Silício: “Começamos a nos capacitar. Lemos muitos livros e fizemos todos os cursos cursos possíveis. Em seis meses de estudo, foi uma transformação na empresa, na nossa mentalidade e na dos colaboradores”, conta Rodrigo.
Os dois empreendedores já acreditavam que a impressora 3D poderia ser uma opção para tornar as indústrias mais competitivas, tanto que seus principais clientes eram as instituições de ensino, que se preocupam em buscar soluções para o mercado. Porém, até então os empreendedores não sabiam como mostrar isso às próprias empresas isso. Com as estratégias estudadas, chegaram a uma nova forma de trabalho: estar mais próximo dos clientes e buscar as soluções junto com eles.
Sucesso do cliente
Antes, o trabalho da empresa consistia em vender e dar assistência. Após o período de estudo, criaram um método chamado “Sucesso do Cliente”, que compreende não apenas a venda e manutenção, mas agrega um treinamento que consiste em já antes de vender estudar o funcionamento da fábrica e buscar soluções e, depois, continuar próximo ao cliente estudando opções para o uso da impressora dentro da empresa. Essa proximidade, segundo Rodrigo, fez com que conseguissem recuperar o faturamento da própria empresa e também ajudassem os clientes.
De acordo com o empresário, dentro de uma indústria uma impressora 3D serve tanto para área de desenvolvimento quanto para área de produção. Segundo Rodrigo, qualquer produto, antes de ser fabricado, precisa ser testado. Porém, se o protótipo é feito já na linha de produção há um custo para ajustar as máquinas, investir em ferramentaria, além de treinamento da equipe, etc., sem saber se o produto será implementado ou se precisará de ajustes posteriores. Com a impressora 3D, as empresas conseguem testar e fazer os ajustes antes dele ir para a linha de produção.
Rodrigo cita alguns exemplos, como empresas de brinquedos, que conseguem testar produtos dimensionais, encaixes, ergonomia e até validar com crianças antes de que o produto vá para a linha de produção: “Isso faz com que a empresa consiga testar e evite prejuízos na produção”, explica.
Já na área de produção, a impressora é uma opção em outras situações: “em alguns casos, você vai produzir poucas peças, mas se você colocar na linha de produção, vai precisar ajustar as máquinas, fazer os moldes, e o custo vai ser alto. Com a impressora, você pode fazer peças únicas”, afirma.
Rodrigo ainda cita a área médica, na qual as impressoras 3D também têm sido utilizadas. “Os médicos conseguem imprimir partes do corpo humano e estudar as estratégias antes das cirurgias. Isso faz com que o procedimento, quando ocorre, seja muito mais rápido”, comenta o empresário.
O resultado de todo esforço em capacitação valeu a pena: no ano passado tiveram um crescimento de 44%, com previsão de contratar mais pessoas e um crescimento ainda maior este ano.
Após o período de altos e baixos, o empreendedor chegou a uma ‘fórmula’ que aplica na empresa: “a teoria que uso é: 4+1 é maior que 5. Ou seja, um dia da semana perdido estudando e treinando equipe é mais produtivo que 5 dias trabalhando”, explica Rodrigo. Agora, na Wishbox os colaboradores têm um período para estudo e capacitação.
“A comunicação interna é muito bem estruturada, com reuniões semanais para discutir novas técnicas. É o que eu diria para todo empreendedor: estude, evolua, se desenvolva”, sugere o gestor, feliz com o resultado.
Fonte: G1