Escritor de Balneário Camboriú tem poesia finalista no Prêmio Off Flip de Literatura 2017

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Morador de Balneário Camboriú, o escritor Lucas de Mello Schlemper é um dos finalistas do Prêmio Off Flip de Literatura 2017, com a poesia “Verbal Volúpia”. A poesia vai ser publicada em uma coletânea que será lançada em agosto pelo Selo Off Flip em formato digital (e-book), com download gratuito aos leitores. Na coletânea, estarão textos de vencedores e outros finalistas nos gêneros literários conto e poesia.

Além de objetivar o estímulo da criação literária em língua portuguesa, o Prêmio pretende divulgar o trabalho dos autores vencedores e viabilizar a vinda deles a Paraty (RJ) durante a Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), que ocorre de 26 a 30 de julho.

Na categoria poesia, Lucas foi o único finalista de Santa Catarina (leia abaixo o poema). Natural de Lages, o escritor reside em Balneário Camboriú há 15 anos. Ele começou a escrever “de brincadeira” em 2008, com êxito em concursos literários. Em 2013, Lucas lançou o livro autoral “Cá Entre Nós”, de poesia e prosa, na cidade do Porto, em Portugal.

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Graduado em Direito pela UNIVALI, ele atua também nas áreas de revisão de textos, tradução, preparação de originais, ensino, curadoria e gestão de projetos culturais.
VERBAL VOLÚPIA

Consultei as cartas, as conchas, os astros,
as trincas, os túmulos, as tralhas,
os tetos enviesados.
As linhas cravadas a fundo nas mãos.
Os auspícios, os oráculos,
as runas e os rumores cegos.
As pirâmides,
as portas que dão para o nada.
Os raios, as labaredas,
o insólito reflexo da lua.
Os presságios, as presenças,
as possessões.
Os terreiros e os arrepios
de um passado inteiro.

E vi um rosto bem nítido
no borrão da xícara de chá.
E imaginei a tua ternura estampada
nas vísceras de um pardal esventrado.
Enquanto vasculhava por pistas
e espreitava por frestas.
Ousando pérfidos palpites
com base em provas improváveis.
E ossos, e pedaços de tuas vestes.
Constituía planos pueris.
Como quem colheu búzios
para interrogar o silêncio
e obteve como resposta
só o eco da própria voz.

Agora, resta-me ser aquilo
que para mim inventei.
Deixa-me invocar as respostas
como quem invoca, das cinzas,
uma verdade definitiva.
Com o rigor de dúvida de um sábio
e a escancarada convicção de um louco.

E que venham
profetas, padres e pajés.
Os quiromantes, os necromantes,
as pitonisas da Tessália –
seja lá o que for, que venha!
Os filósofos, os moralistas,
os cientistas da matéria,
os juízes da impávida certeza.
Ou marginais, ou bon-vivants,
adoráveis embusteiros,
adoráveis conselheiros –
por que não?

Que venham todas as vozes
da verdade inventada.
Para que satisfaça-se, em mim,
esta ignorância que é ávida.
E que uníssonas,
num coro de deboche,
digam-me tão somente aquilo
o que espero de antemão ouvir.

Terei, assim,
ligeira impressão
de que sei de tudo.

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