Formação de “Tempestade Roani” sul do Brasil chama atenção do mundo

Ciclone descrito como atípico na costa do Uruguai e a Sudeste do Rio Grande do Sul recebe classificações diversas, chama atenção do mundo – Foto: MetSul/Zoom Earth/ND
Publicidade

A formação de um ciclone, inicialmente extratropical, que se formou a Leste do Uruguai, junto à frente fria adquiriu características, atípicas na noite de segunda-feira (28). Meteorologistas consideram o sistema intenso, pequeno e concêntrico, que agora parece ter um centro fechado de circulação com aparência de um “olho”.

Conforme o MetSul, a Diretoria de Hidrografia Naval da Marinha do Brasil (DHN), em sua carta sinótica emitida às 21h de segunda-feira (28) classificou o ciclone na costa do Uruguai e a Sudeste do Chuí como uma tempestade subtropical, ou seja, um ciclone híbrido, com centro quente em superfície e frio em altitude. A pressão indicada era de 988 hPa com vento sustentado de 45 nós (83 km/h) e rajadas de 50 nós (93 km/h).

Já na manhã desta terça-feira (29), segundo meteorologistas da Epagri/Ciram, o ciclone no litoral do Uruguai e Sul do Rio Grande do Sul evoluiu para tempestade tropical, classificado pela Marinha do Brasil com o nome de Roani (Grande Guerreiro).

Publicidade

Um boletim da agência meteorológica dos Estados Unidos (NOAA) indicou que o sistema passou por uma transição de subtropical para tropical (centro totalmente quente) na noite da segunda-feira. O comunicado observa a formação de um olho no sistema após 20h30 e o resfriamento dos topos das nuvens ao redor do centro de circulação (CDO), indicando uma intensificação por convecção (instabilidade)

O boletim classifica o sistema como Invest, o que significa que passou a merecer monitoramento e coleta de dados pelos centros de previsão de ciclones tropicais, e ainda estima a intensidade do ciclone pela técnica de Dvorak para ciclones tropicais a partir das imagens de satélite em 3,5.

O número corresponde no caso do Atlântico a uma tempestade subtropical com vento sustentado de 102 km/h. Isso coloca o sistema no limite superior de uma tempestade tropical e perto do estágio de furacão que é a partir de 4.0 na escala de Current Intensity (CI) na técnica Dvorak.

Polemica na comunidade meteorológica

O informe da NOAA imediatamente detonou entre os meteorologistas enorme debate sobre a formação de um ciclone tropical em pleno mês de junho, em latitudes tão ao Sul quanto o Uruguai (37ºS e 52ºW) eram as coordenadas informadas pela NOAA na noite da segunda, e ainda em meio a uma poderosa onda de frio. O espanto da comunidade meteorológica com um ciclone tropical no atual cenário meteorológico da região se justifica. Veja os principais motivos:

– Ciclones tropicais tendem a se formar sobre águas quentes, em regra com temperatura superficial do oceano de 27ºC ou mais. Agora, a temperatura do mar onde o sistema se formou está ao redor de 17ºC.

– Ciclones tropicais tendem a se formar nos meses de verão, ou no final da primavera ou no começo do outono. Este tipo de ciclone é uma absoluta excepcionalidade no inverno. No Atlântico Norte, em um século e meio de dados, foram apenas 77 ciclones subtropicais ou tropicais em dezembro (primeiro mês do inverno setentrional que corresponderia ao nosso junho) e 4 em janeiro (o equivalente ao nosso julho) e estamos quase na virada do mês para julho.

– Ciclones tropicais tendem a se originar em áreas entre os trópicos e, então, evoluem para áreas subtropicais. Excepcionalmente, no Atlântico Norte, se forma mais ao Norte. No caso do Atlântico Sul, todos os ciclones tropicais até hoje documentados tiveram origem na costa do Brasil. Não há precedentes de ciclogênese tropical em latitudes tão ao Sul quanto o Rio da Prata.

– Ciclones tropicais tendem a se formar em meio a uma atmosfera quente e úmida. Este ciclone se originou em meio a uma poderosa massa de ar polar antártica com frio muito intenso e neve até em locais pouco acostumados ao fenômeno.

Uma vez admitindo-se que a classificação do NOAA esteja correta, e a NOAA muitas vezes no passado já revisou a classificação de tempestades no Atlântico Norte em pós-análise, trata-se de um fato tão singular, incomum e do ponto de vista meteorológico esdrúxulo que por analogia seria como se ciclone tropical se formasse na costa Nordeste dos Estados Unidos, junto à Nova York ou à Nova Inglaterra durante o inverno enquanto uma grande onda polar trazendo neve e frio muito abaixo de zero na região.

Fonte: Visor Notícias

Publicidade