Morador de Palhoça tem de esperar 32 anos para fazer exame de ressonância magnética pelo SUS

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Ao buscar um exame de ressonância magnética com contraste pelo SUS, o recepcionista Renato Guber, 38 anos, entrou em uma lista de espera inacreditável: 11.754 dias. Ou seja, terá de esperar 32 anos para realizar o exame gratuitamente.

Para piorar, o dado sequer é real: a previsão foi feita há três meses, e de lá para cá a previsão não caiu um dia sequer.

Ouça a entrevista de Renato Guber ao Estúdio CBN Diário:

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A fila de espera é confirmada pelo secretário municipal de Saúde de Palhoça. Rosinei Horácio explica que a procura por esse exame, considerado de média complexidade, é sete vezes maior do que a oferta:

— Temos uma cota mensal, hoje irrisória, de 21 por mês para Palhoça. Entram em média 150 por mês.

O custo é repartido entre município, Estado e União. Horácio garante que Palhoça investe 26 a 27% do orçamento em saúde, acima do mínimo exigido por lei de 15%.

— Esse mês fizemos mutirão e realizamos, além dos 21, com recursos próprios, mais 100, e no mês que vem faremos mais 150, para reduzir essa fila. A grande dificuldade é que cai tudo sobre o município. A porta de entrada de qualquer exame é pelas nossas unidades de saúde.

Ouça a entrevista com o secretário de Saúde de Palhoça, Rosinei Horário:

Foi exatamente por um posto de saúde do município que a romaria de Guber começou. Ele foi diagnosticado em fevereiro de 2017 com fístula perianal (uma ferida que se forma entre o final do intestino e a pele do ânus, que provoca sintomas como dor, vermelhidão e sangramento) e precisou submeter-se a uma cirurgia.

Ele acreditou que iria conseguir fazer a cirurgia no Hospital Universitário em janeiro de 2018, quando foi chamado. Ledo engano. Foi dispensado porque não havia anestesiologista. Como não havia perspectiva de realizar o procedimento, se endividou em empréstimos e, em março,  fez no particular.

Para realizar exames de ressonância e colonoscopia anteriores à operação, sem ter de esperar por anos, gastou cerca de R$ 15 mil.

— Precisei fazer empréstimo e, com juros, a dívida chega a R$ 28 mil. Não posso mais pagar do meu bolso.

Após a cirurgia, iniciou a recuperação e , em agosto, procurou a secretaria de saúde de Palhoça para fazer a ressonância magnética com contraste. Foi aí que ele entrou numa fila de espera com perspectiva de ser atendido daqui a 32 anos. Hoje, Renato tem 38 anos de idade. Seguindo a previsão do SUS, ele seria chamado para fazer a ressonância quando já estivesse com 70 anos.

A peregrinação do recepcionista incluiu várias idas e vindas entre posto de saúde e Unidade de Pronto Atendimento, além de Policlínica do continente, hospitais Regional e Celso Ramos, e emergência do HU.

Pelo que o próprio secretário diz, o drama de Guber não é isolado.

— A procura cresce, e a oferta é insuficiente — admite.

Renato Guber mora em Palhoça e trabalha na recepção de um hotel na praia da Joaquina em Florianópolis. Enfrenta diariamente o sofrimento do trânsito para se deslocar de casa para o trabalho. O trabalho em pé como recepcionista de hotel é outra dificuldade diante da recuperação da cirurgia. Hoje, ele está afastado do emprego cuidando da própria saúde e sonhando em ser chamado para fazer a ressonância magnética e dar sequência ao seu tratamento. Que não precise esperar mais 32 anos para isso.

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