Moradores e artesãos saem com sacolas cheias de conchas encontradas na areia durante obra de alargamento

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Após o aparecimento de centenas de conchas na Praia Central de Balneário Camboriú, no Litoral Norte, que surgiram durante o processo de alargamento da faixa de areias, várias pessoas foram vistas na manhã desta sexta-feira (27) recolhendo as carapaças para utilizar na produção de peças de artesanato.

O professor de Ecologia e Oceanografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Paulo Horta, recomenda que as conchas não sejam retiradas do local (veja mais abaixo).

Coleta

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Com sacolas cheias, muitos moradores levaram os objetos para usá-los como decoração.

“Eu vim aqui pra catar essas conchinhas pra fazer artesanato. Trabalho com artes. É o meu ganha-pão, meu dia a dia. Faço colar, faço paredes. Faço um monte de artesanato”, disse o artesão indígena Kaingang Odair José da Silva.

A aposentada Ângela Maria da Silva Lopes mora na região e decidiu pegar algumas conchas para decorar a casa. “Percebi que estava todo mundo aqui e eu gosto muito também, de pôr em vidros, para decorar. É muito lindo”, disse.

O professor de Ecologia e Oceanografia, porém, afirmou que as conchas são importantes para o meio ambiente no mar.

“Esses materiais apresentam importância biogeoquímicas. O carbonato [presente nelas] é importante para a manutenção da capacidade tampão que o oceano tem. É a capacidade tampão que evita ou mitiga a acidificação do oceano. Além disso não essas conchas são a casa ou o substrato de muitos animais e plantas. Um exemplo disso é o ermitão. Crustáceo que depende destas conchas”, disse o professor Paulo Horta.

As conchas estão sendo encontradas na parte finalizada da obra do alargamento da praia, que acontecem desde domingo (22).

Conhas encontradas na praia Central de Balneário Camboriú — Foto: Luiz Souza/NSC
Conchas encontradas na praia Central de Balneário Camboriú — Foto: Luiz Souza/NSC

Segundo a secretária do Meio Ambiente municipal, Heloísa Furtado Lenzi, o aparecimento das conchas não constitui impacto ambiental, uma vez que elas chegam vazias à praia. Ou seja, não houve morte de moluscos em razão deste processo.

“As conchas que estão sendo vistas, são o que chamamos de detrito biológico. É o que sobra de moluscos e crustáceos e que se deposita na primeira camada do fundo oceânico. Conforme a dragagem vai se aproximando de camadas mais fundas, a areia vem bem mais limpa e sem este material”, disse a secretária.

A prefeitura afirma que programas ambientais estão sendo realizados para que a “dragagem não interfira na vida marinha”. Um biólogo também acompanha os trabalhos, de acordo com a administração municipal.

Conchas em Balneário Camboriú — Foto: Luiz Souza/NSC
Conchas em Balneário Camboriú — Foto: Luiz Souza/NSC

Não é crime

O Capitão da Polícia Militar Ambiental, Fernando Magoga Conde, explica que a coleta do material não configura crime ou infração ambiental, uma vez que as pessoas estão recolhendo as conchas vazias.

“Para incidir alguma infração de pesca, eles teriam que estar coletando algum crustáceo, moluscos aquáticos, peixes ou vegetais hidróbios para satisfação, ou não, econômica. Mas, no caso, estão pegando apenas a concha, portanto não entendo como crime de pesca”, disse.

Especialista explica a necessidade de monitoramento

Para o professor Paulo Horta, o fenômeno do aparecimento das conchas na areia tem relação com a obra de alargamento na região. Segundo ele, tudo indica que as conchas vieram junto com a areia extraída do mar.

“Eles [moluscos] poderiam já estar mortos. Nesse caso, o que foi dragado foi um banco rico em biodetrito. Caso ainda tenhamos sinais de moluscos [vivos], pode ter sido dragado um banco com uma agregação. Precisa ser verificado se é uma mortalidade recente ou se estamos falando de algo diferente”, explica Horta.

De acordo com o professor, é importante que haja monitoramento constante da praia e do processo de dragagem e que sinais como estes sejam investigados para dar segurança ao ambiente e à população, sob risco de desequilíbrio ambiental.

“Além destes invertebrados, o monitoramento deve considerar a saúde de peixes, briozoários, algas, bem como a segurança alimentar de pescados ou frutos do mar. A dragagem revolve o sedimento e pode expor poluentes diversos, como metais pesados. Em elevadas concentrações, esses metais se concentram em peixes e moluscos, podendo representar risco para a saúde humana”, conclui o professor.

Pessoas recolhem conchas da praia em SC — Foto: Dariane Peres/Reprodução

Pessoas recolhem conchas da praia em SC — Foto: Dariane Peres/Reprodução

Conchas em Balneário Camboriú — Foto: Dariane Peres/Reprodução

Conchas em Balneário Camboriú — Foto: Dariane Peres/Reprodução

Conchas encontradas na faixa de areia alargada em praia de Balneário Camboriú — Foto: Dariane Peres/Reprodução

Conchas encontradas na faixa de areia alargada em praia de Balneário Camboriú — Foto: Dariane Peres/Reprodução

G1 SC

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