Ele teve uma passagem pelo PTB, em que chegou a concorrer a deputado estadual em 1994, mas foi no MDB que construiu sua carreira política.
Filiado à sigla desde 1995, um ano antes de ser eleito pela primeira vez prefeito de Rio Negrinho, Mauro Mariani construiu sua imagem no Estado e, de lá para cá, ganhou status de articulador político. Tornou-se presidente estadual MDB e depois de 15 anos dedicados ao Legislativo, volta a pleitear o governo do Estado.
O candidato a governador de SC escolheu a palavra “empreendedora” para resumir o que quer de Santa Catarina caso seja eleito, por acreditar que o desenvolvimento econômico é a saída para aliviar a crise e retomar o crescimento.
PERFIL
Nascimento: 8/1/1964
Natural de: Bituruna (PR)
Profissão: diretor de empresas
Escolaridade: Superior
Carreira política: Prefeito de Rio Negrinho de 1997 a 2002, deputado estadual de 2003 a 2007, deputado federal desde 2007
Confira a seguir a entrevista com o candidato:
O MDB está no governo desde 2002, mas não disputa a majoritária na cabeça de chapa desde 2010. O que significa o partido voltando a comandar o processo eleitoral no Estado?
É um momento, primeiro, aguardado pela militância do partido e aguardado por grande parte do segmento, porque os encaminhamentos que se deram nas eleições de 2010 e 2014 sofreram contestações dentro do partido. Eu mesmo liderei uma ala do partido que era contrária à coligação, que queria uma candidatura própria. E se revelou que eu tinha razão, principalmente na reeleição do governador (Raimundo) Colombo. O MDB não esteve confortável, o MDB não protagonizou, especialmente neste segundo governo. (O partido) ocupou funções periféricas no governo, o próprio Eduardo (Pinho Moreira, atual governador) se formos recuperar as falas dele em determinados períodos reclamação da falta de participação nas decisões.
O MDB errou ao apoiar o Colombo?
Na minha avaliação, sim. A reeleição especialmente. O resultado demonstra isso, sinceramente.
O senhor falou de protagonismo. Essa transição de figurante para protagonista para as eleições deste ano é fácil de se colocar em prática?
Tranquila. Era um sonho do MDB. Como se explica um partido com a estrutura que nós temos, com 240 mil filiados, presente em todos os municípios, ficar três vezes sem disputar uma eleição ao governo. Isso não se justifica. É difícil de explicar. O MDB estava pronto. Quem acompanhou a movimentação do nosso partido vê. A nossa convenção por exemplo. Eu nunca tinha participado de um momento de alegria, de euforia quase, do nosso partido. Isso demonstra claramente a vontade, o desejo do partido de participar da eleição como protagonista. Isso está muito claro. Quando o Eduardo assume o governo o MDB de certa forma se reacendeu, com algumas medidas com algum impacto. Penso que deu uma energia a mais ao partido.
O partido reacendeu porque estava apagado, candidato?
Não. Porque não se sentia confortável na posição que estava. A verdade é essa. O MDB nunca se sentiu confortável. E é fácil de explicar: pelo nosso tamanho, pela nossa história, pela nossa tradição. O MDB foi um partido forjado na disputa, na luta. E quando você pega um partido desse e segura ele, não dá condição de ir à luta, ele se ressente, é natural. E isso estava fazendo falta para a militância do MDB.
O senhor pretende resgatar bandeira históricas do MDB, como por exemplo a descentralização, ou quer trazer um novo discurso?
Vivi e participei do processo de descentralização. Estamos falando de 16 anos atrás. A realidade de SC era diferente, do mundo era diferente. Existiam profissões que hoje não existem mais. Nós chegamos ao governo e vimos um Estado onde 54 municípios não tinham os seus acessos pavimentados. A ideia da descentralização o que era: espalhar o desenvolvimento e oportunidades por SC. E ela teve efetividade. Inegavelmente ela deu um resultado muito positivo que até hoje é percebido por toda SC. Dezesseis anos atrás. Hoje o modelo e o momento são outros.
O que a descentralização trouxe de vantagem?
A percepção da SC real, da SC que produz. A força da agricultura, agroindústria. O Estado passou a se voltar para o interior. Dizia-se na época que o Estado governava de costas para o interior. E era verdadeiro, porque havia uma carência de infraestrutura mínima, básica, de um atendimento, de um carinho para esse interior que produz, que faz a economia girar, que paga a conta. Houve um tratamento com mais respeito a essa SC. A tese da descentralização é só por isso. Esse espírito impregnou toda SC por um determinado tempo. Foi bom, foi ótimo. Agora é uma outra fase.
Um dos objetivos da descentralização era diminuir a “litoralização”. Nas estatísticas não se atingiu esse objetivo.
Depende por qual estatísticas você está analisando. Populacional? É uma situação inevitável, no mundo inteiro é assim. As pessoas migram e se concentram no entorno de grandes metrópoles. No Brasil, por exemplo, metade da população vive nas regiões metropolitanas, isso não tem como conter. Agora se você for verificar, por exemplo, tratamento de saúde. As pessoas de Porto União tinham que sair de lá, de Canoinhas, e vir até Florianópolis, viajar 450 quilômetros para fazer um tratamento de câncer. Sabe onde eles fazem hoje? Em Porto União. Não tem valor isso? Talvez não tenha valor para quem viva aqui (em Florianópolis). Agora aquele cidadão que vive lá no interior de SC, que tem toda a dificuldade, eu sei o que é isso. Essa é a descentralização. Prestar o serviço à sociedade. Não essa descentralização do discurso, da conversa fiada que agora estão querendo dizer. “Ah, as regionais são o grande problema de SC”. Isso é uma falácia. Nós temos problemas estruturais muito mais pesados e onerosos aos cofres públicos do que as secretarias regionais.
Quando usamos a palavra “descentralização”, vem a lembranças das regionais. As SDRs viraram ADRs. Houve cortes. O senhor pretende, digamos, ampliar novamente as ADRs e transformá-las em SDRs?
Não. E aí continuando meu raciocínio. Há 16 anos era uma realidade, hoje é outra. Será que a presença física é necessária? Estar lá fisicamente em cada região do Estado em tempos de Facetime, WhatsApp, de modernidade e agilidade na comunicação. Hoje nós temos instrumentos que não tínhamos 16 anos atrás. E você ter uma estrutura lá no interior do Estado e não ter orçamento não adianta, não resolve nada. O que aconteceu principalmente no segundo governo do Colombo: ele enxugou os orçamentos das regionais e elas passaram a não ter efetividade, não resolveram mais nada. Eu defendo a ideia da descentralização, até porque sou formado em Gestão Pública. Todo mundo que entende de gestão pública e pratica ela no dia a dia sabe que o recurso quanto mais próximo do cidadão, mais resultado dá. É inegável. Não tem como combater a tese da descentralização. O que nós precisamos fazer, sim, é cuidar da forma. Reestudar a forma. Hoje nós podemos fazer, por exemplo, seis ou sete secretarias com força, com orçamento, como tínhamos no Oeste, que possam resolver problemas, reformar escolas, tapar buracos de rodovias, roçar as rodovias, que nem isso não fazem. Se for para ter secretarias regionais só para dizer que tem, então é melhor fechar.
Houve uma banalização das regionais?
Sem dúvida. Houve enfraquecimento das ADRs. Elas não fazem mais sentido da forma em que estão. Defendo que nós temos que manter a ideia da descentralização, enxugar as estruturas, e fortalecer aquelas que ficarem. Para que elas possam representar aquela região, cuidar e resolver os problemas. Até porque se formos analisar, as estruturas já existem. As regionais de Saúde existem, de Educação existem, da Cidasc existem, da Epagri existem, então isso já está espalhado pelo Estado, não tem como suprimir. É juntar isso, transformar em macrorregiões com peso político, com recurso, para podemos resolver.
O senhor falou em uma das suas respostas da questão da “ambulancioterapia”, do paciente se deslocar da sua cidade até a Capital para ser atendido. Isso terminou?
Não. Já amenizou bastante, mas ainda não terminou. A regionalização da saúde foi um processo iniciado que deu resultado, está dando, mas ainda está muito aquém daquilo que nós precisamos fazer. Precisamos fazer mais. Principalmente na questão hospitalar. Esse é o desafio.
Como enfrentar os problemas de saúde e fazer com que ela não seja a dor de cabeça dos catarinenses?
Fácil. Enfrentando especialmente a questão hospitalar. SC tem 183 hospitais. Desses, 13 são administrados pelo governo estadual. Esses 13 consomem 70% de todo o recurso do SUS que vem para os hospitais de SC e entregam 30% do serviço. É uma ineficiência que não sou eu quem está falando. Pega o relatório do TCE do ano passado. Está lá escrito. A ineficiência dos 13 hospitais administrados pelo Estado, em 2017, custou R$ 173 milhões. A ineficiência, não o custo total dos hospitais. Agora vamos voltar: R$ 1 bilhão de dívidas. Falei com o secretário e ele baixou para R$ 700 milhões com algumas ações de gestão. Então nós temos uma dívida de R$ 700 milhões e uma ineficiência. Em uma conta de açougueiro, se nós combatermos essa ineficiência nós conseguimos pagar essa dívida. É isso que tem que fazer. Nós temos que reorganizar especialmente o sistema hospitalar de SC.
Se a gente pegar os últimos 12 anos, a Secretaria de Saúde foi comandada por PSDB, PSD, DEM, mas boa parte desse tempo pelo MDB, como agora. Por que até agora não foi enfrentado?
Não foi enfrentado porque não houve disposição política para isso. São necessárias políticas duras. Quem vai para o Executivo e topar enfrentar isso tem que ter coragem. Essa é a palavra número um. E infelizmente não tiveram a coragem para fazer o enfrentamento verdadeiro. Tangenciaram. Algumas medidas impopulares têm que ser tomadas no primeiro mandato, mas temos que mandar. Estabelecer, por exemplo, uma estatística de todos os hospitais de SC. Se colocar em uma planilha a produção, o número de funcionários, o recurso que recebe, não vai precisar ser nenhum especialista. É só sentar e olhar para a planilha. Vai se ver onde está o problema. E atuar naquilo ali. Não se tem dinheiro para pagar ineficiência, para pagar os discursos políticos. As empresas estão morrendo por conta disso. Ou nós entramos para resolver com firmeza, fazer o que tem que fazer, ou vamos continuar e daqui a cinco ou seis anos vamos estar discutindo a dívida que não será de R$ 1 bilhão, e sim de R$ 2 bilhões. E as pessoas esperando na fila. Tem que ter energia, coragem, determinação para enfrentar. Organizar a estrutura hospitalar do Estado.
Chegamos a 64 mortes na BR-470. Qual o papel de Estado quanto à duplicação da rodovia para não ficarmos nessa de não tem dinheiro?
A duplicação está equacionada. Agora foi aprovada a concessão da BR-470, que era um assunto que a gente sempre debatia e defendia. Agora com todo respeito. Eu não vi nenhuma vez o governador de SC ir lá, usar de seu prestígio com a ex-presidente Dilma. Eles chegaram a dizer que eram amigos pessoais, mas por que não colocou peso do governo também na luta pela duplicação? Faltou um pouco isso. O Estado esteve um pouco ausente nessas lutas que são importantes para a sociedade catarinense. A BR-470, a BR-280, a BR-282. A bancada catarinense faz a sua parte, mas com o peso do governador seguramente nós teríamos um resultado melhor. Não é uma crítica, é uma observação. O governador tem que estar vestido do sentimento da sociedade independentemente se for obra do Estado ou do governo federal.
Houve negligência com a BR-470?
Não diria negligência. Faltou entrosamento. O governador ia a Brasília e não falava com a bancada. Tem que ter uma conjugação de esforços para temas relevantes como esse. Isso independe de partido político. Faltou peso. Usar naquele momento em que ele gozava de grande intimidade com a Presidência da República de poder resolver o problema, em um momento em que o Brasil estava com um volume muito grande de investimentos. Nós pecamos nesse ponto. A bancada tem feito seu trabalho, mas penso que se o governo chegar junto a solução seria melhor.
O senhor como secretário de Infraestrutura também conviveu com essa dor de cabeça chamada reforma da Ponte Hercílio Luz. Vai conseguir inaugurá-la?
A reforma da Ponte Hercílio Luz é mais uma caixa preta que tem. Alguém sabe quanto foi gasto? Temos que abrir isso. Foi gasto tanto e precisamos de mais tanto. Vamos fazer? Essa ponte tem toda uma característica, é um ícone de SC, foi investido um volume de recursos que eu não sei, agora nós precisamos saber quanto mais é preciso. Em um estudo que nós fizemos lá atrás era possível que ela fosse utilizada para a segregação do transporte coletivo. Seria uma solução, mas aí é estudo técnico. Precisamos resolver o transporte coletivo, ter mais eficiência para que as pessoas não usem os seus carros. Podemos fazer cinco pontos. Está bom, a pessoal vai passar a ponte, entrar na ilha, e aí? A saída é o transporte coletivo.
Guerras entre facções, sensação de insegurança. O que o senhor vai mudar na questão de segurança pública?
O Eduardo já mudou bastante. Só a forma de enfrentamento do novo comando da PM já baixou os índices de SC. Recebo semanalmente os índices, e eles caíram. De assaltos, de assassinatos. Porque há uma efetividade do policiamento na rua, enfrentando a bandidagem. Agora só isso não adianta. Nós temos que investir principalmente na tecnologia, na integração entre as polícias Civil e Militar. Isso é fundamental. O sistema prisional avançou bem, é um dos modelos de sucesso no Brasil.
O Hospital São José, em Joinville, passou a receber R$ 3 milhões mensais do Estado. No seu governo isso vai ser mantido, ampliado?
O Hospital São José, com todo respeito, é disso que estou falando. Ele tem 252 leitos, se não me engano. A OMS diz que para cada leito é preciso 3,5 funcionários. Então o hospital deveria ter, vamos lá, mil funcionários. Sabe quantos tem? Mil e seiscentos. Está respondida a tua pergunta. Joinville gasta 40% em saúde, o hospital custa 11%. Por quê? Com todo o respeito, está errado o modelo. Não pode ser público, me desculpa. Está errado, é claro isso. É ineficiência. Estamos jogando dinheiro fora, financiando a ineficiência. Nós não temos mais dinheiro para financiar a ineficiência. É isso que vamos combater. Só que tem um detalhe. O Mauro tem coragem para fazer. Eu não tenho medo de enfrentar corporações.