A incerteza volta a dominar a obra de recuperação da Ponte Hercílio Luz, em Florianópolis. Depois de sinalizar a necessidade de um aditivo de R$ 37 milhões no contrato com os portugueses da construtora Teixeira Duarte, o governo do Estado agora descarta liberar a estrutura para o tráfego de veículos em dezembro de 2018. Um novo prazo ainda não foi estabelecido, o que deixa o futuro do cartão-postal indefinido dias antes de a Velha Senhora completar 92 anos no próximo 13 de maio. O governador Eduardo Pinho Moreira (PMDB) havia admitido essa possibilidade adiamento no último dia 18 de abril.
Essa é a segunda alteração de data dentro do novo contrato assinado com dispensa de licitação em abril de 2016. Pelo documento oficial da obra, a conclusão da reforma deveria ocorrer em outubro de 2018, inclusive com a retirada das bases de sustentação provisória instaladas para dar apoiar o vão central durante a retiradas das barras de olhal que mantêm a ponte pênsil. Depois, o Estado passou a trabalhar com a data de 23 de dezembro para a liberação do trânsito para posterior retirada das bases inferiores.
A Secretaria Estadual de Infraestrutura enviou nos últimos dias um pedido para o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) remanejar recursos dentro do programa Pacto Para Santa Catarina e conseguir os valores necessários para pagar o aditivo. A estratégia será usar o dinheiro de outras obras já concluídas ou que estão em ritmo mais lento para colocar na recuperação da Hercílio Luz, segundo o secretário Paulo França.
— Somente depois que o banco financiador aprovar nossa proposta é que poderemos apresentar o novo cronograma — justifica França.
O ritmo na obra diminuiu. O próprio secretário admite. A falta do aditivo impede o avanço dos trabalhos, alega. Por outro lado, França admite que a transição entre os governos de Raimundo Colombo (PSD) e Pinho Moreira, entre fevereiro e abril deste ano, contribuíram para o atraso e a mudança de data:
— A gente não alterou nada no processo, mas teve velocidade diferente na passagem de governo, por isso teve que ser dado um ritmo diferenciado.
Prioridade de Colombo e opinião diferente de Pinho Moreira
Em 2015, quando o Estado rompeu o contrato com a empresa Espaço Aberto, o governador Colombo sinalizou a intenção de priorizar a reforma da ponte. Ele chegou a fazer contato com a American Bridge, empreiteira responsável pela construção da estrutura na década de 1920, mas teve o pedido de ajuda negado. Depois chegou aos portugueses da Teixeira Duarte. Num primeiro momento, foi assinado o contrato emergencial para a conclusão da instalação das estruturas provisórias.
Em abril de 2016, a mesma empreiteira assumiu o restante da recuperação sob um valor de R$ 262.925.435,21. Em novembro de 2016 foi assinado o primeiro aditivo, de R$ 11.171.236,46. Atualmente, com mais R$ 2.615.972,21 em reajustes, o valor total da obra está em R$ 276.712.643,88. Com o acréscimo de valor em avaliação no BNDES, o montante subirá para R$ 313 milhões.
Mesmo com os altos valores, Colombo manteve posição e deixou a reforma como uma de suas prioridades. Fazia constantes visitar ao canteiro de obras. Postura diferente, porém, demonstrou o vice dele e atual governador. Em entrevista ao DC, logo depois de ter assumido, em fevereiro de 2018, Pinho Moreira disse que não teria feito o mesmo que o ex-governador:
— Acho que a ponte é muito importante como símbolo de SC. O mérito da obra é do Colombo, ele se dedicou a isso, colocou como prioridade. Eu não sei se teria feito o mesmo, porque acho que o método é dele — falou à época.
Para o secretário de Infraestrutura, Pinho Moreira tem demonstrado bastante interesse na pauta e determinou o andamento das obras.
Instabilidade gera desconfiança entre engenheiros
Assim que decidiu investir na reforma da Hercílio Luz, em 2016, o governo chamou entidades de engenheiros, arquitetos e da sociedade civil organizada para acompanhar o andamento da obra. Entre elas estava a Associação Catarinense de Engenheiros (ACE), antes crítica da evolução dos serviços da recuperação. Nesta terça-feira, o presidente da entidade, Carlos Nakazima, mostrou preocupação com o atual momento.
— Vejo essa situação com grande frustração, tanto para o povo catarinense, como também para os demais que têm acompanhado a obra.
Do ponto de vista estrutural e técnico, o engenheiro especialista em pontes, Roberto de Oliveira, não enxerga preocupação. Segundo ele, que acompanha a reforma, o atraso é tolerável. No entanto, o que mais o preocupa é o ajustes nos acessos para receber o trânsito depois de concluída a recuperação:
— Não adianta inaugurar sem acesso. E tem ainda a questão do uso da ponte. Muita gente o quer como cartão-postal, mas insistimos para que seja para veículos.
Nesta etapa da obra, os operários estão recolocando as barras de olhal, responsáveis por içar o vão central e dar as conhecidas curvas da estrutura. Na cabeceira continental, porém, o Estado ainda enfrenta problema de desapropriação de imóveis, que também atrasam a continuidade da reforma.