Safra da sardinha é a pior dos últimos anos em Santa Catarina

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A safra da sardinha, que começou em 15 de fevereiro, já é a pior dos últimos cinco anos. Sem expectativas de melhora, parte dos armadores da região de Itajaí, que detém a maior frota especializada nesse tipo de pescaria no país, decidiu trazer os barcos de volta e desistir das capturas. A desistência das embarcações tende a agravar após a Semana Santa, quando a procura pelo pescado é maior e estimula novas tentativas.

Um dos empresários da pesca mais conhecidos de Itajaí, José Kowalsky diz que sua frota conseguiu capturar apenas quatro toneladas de sardinha nos últimos dois meses. Consideradas as cerca de 80 embarcações catarinenses envolvidas nessa modalidade de pesca, ainda não se chegou a mil toneladas capturadas.

A baixa já reflete no mercado. Em Itajaí a sardinha tem sido vendida por em média R$ 15 o quilo. Em anos anteriores, nesta época, a mesma quantidade de peixe chegou a ser comercializada por R$ 1,60.

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Os números da safra atual destoam das estatísticas dos últimos anos. Levantamentos feitos pelo Grupo de Estudos Pesqueiros da Univali (GEP) mostram que a captura da sardinha cresceu a partir de 2012. Chegou ao ápice em 2014, com quase 100 mil toneladas, e depois começou a registrar retração. No ano passado foram 45 mil toneladas _ praticamente metade do que foi capturado em 2015. Ainda assim, nada que apontasse para os resultados catastróficos desta safra.

A situação preocupa o Sitrapesca, sindicato que representa os trabalhadores da pesca comercial. Cada barco leva a bordo 18 pescadores _ só em Itajaí e Navegantes, 1,4 mil estão empregados na captura da sardinha. A desistência dos armadores em seguir em busca dos cardumes deve resultar em desemprego.

Capturas em toneladas
2012 – 95,9 mil
2013 – 98,6 mil
2014 – 99,1 mil
2015 – 86,5 mil
2016 – 45 mil

Defeso

Uma reunião nesta semana entre representantes da pesca e do Grupo de Estudos Pesqueiros da Univali (GEP) vai discutir a baixa captura da sardinha e o que fazer em relação a isso. Presidente da Câmara do Cerco no Sindicato dos Armadores e da Indústria da Pesca de Itajaí e Região (Sindipi), Agnaldo Hilton dos Santos sugere uma mudança no período de defeso, extinguindo a proibição de pesca entre junho e julho, para estender o prazo de captura. A medida, entretanto, tem resistência ente pesquisadores.

Falta gestão

Pesquisador do GEP, o professor da Univali, Paulo Ricardo Schwingel, diz que o principal problema da sardinha é a falta de um espaço de discussão. Nos últimos anos a gestão pesqueira pouco evoluiu, resultado de inércia do governo federal e de sucessivas mudanças no ministério responsável pela pesca _ em um ano e meio foi extinto o Ministério da Pesca, o setor foi parar no Ministério da Agricultura, e de lá transferido, mês passado, para o Ministério da Indústria. O sintoma mais evidente do troca-troca recai sobre a pesquisa: não há sequer para quem levar as informações levantadas.

Consequência

Uma conjunção de fatores colabora para uma redução dos estoques de sardinha no mar. De um lado, o fenômeno El Niño, que aqueceu as águas no Sul e no Sudeste do país. O que pode ter contribuído para uma dispersão maior dos cardumes _ prova disso é que se pescou sardinhas no Rio Grande do Sul nesta temporada, um fato incomum.

De outro, melhoria na eficiência das embarcações que capturam a sardinha. Não se aumentou o esforço de pesca, já que o número de barcos permaneceu o mesmo. Mas novas tecnologias permitiram que eles tivessem muito mais sucesso nas capturas a partir de 2009.

É importante que se diga, alerta Schwingel, que a pesca simplesmente adequou-se, dentro dos limites da lei, para tornar sua atividade mais rentável. O que faltou, nesse meio tempo, foi um espaço para se discutir os estoques de sardinha e a melhor maneira de garantir uma pescaria sustentável. ¿Não culpo o meio ambiente, nem o pescador. Temos que responsabilizar quem não fez a lição de casa¿.

Por O Sol Diário

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