Saúde: Como se prevenir das doenças infecciosas para as quais não há vacina

Publicidade

A lista de doenças infecciosas, causadas por micro-organismos como vírus, bactérias, protozoários e fungos, é enorme. Para muitas existem vacinas, mas uma parte significativa não conta com proteção – apenas medidas paliativas de prevenção.

Entre as principais, ainda com alta incidência no Brasil, estão Aids, hanseníase, hepatite C, malária e sífilis. A boa notícia é que elas têm tratamento, e com excelentes prognósticos. A seguir, saiba o que são exatamente essas patologias, seus sintomas, tratamentos e formas de evitá-las.

Aids

O que é: trata-se de uma infecção sexualmente transmissível (IST) provocada pelo HIV, um retrovírus que ataca o sistema imunológico. Ele é transmitido pelo sexo vaginal, anal e oral sem camisinha, uso de seringa e instrumentos perfurocortantes contagiados, transfusão de sangue contaminado e de mãe infectada para o filho durante a gravidez, no parto ou na amamentação.

Publicidade

É importante destacar que ter HIV não é o mesmo que ter Aids – há muitas pessoas soropositivas (que possuem o vírus em seu corpo) e que passam anos sem apresentar qualquer sintoma e sem desenvolver a doença. A sigla “Aids” significa Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, e refere-se à doença criada pelo vírus.

Sintomas: na fase inicial, chamada de infecção aguda, a enfermidade pode ser facilmente confundida com uma simples gripe, pois provoca febre e mal-estar. Outros sinas comuns são manchas pelo corpo, gânglios no pescoço e dor de garganta. Segundo o Ministério da Saúde, a fase seguinte, que é assintomática e pode durar vários anos, “é marcada pela forte interação entre as células de defesa e as constantes e rápidas mutações do vírus”.

Depois vem a fase em que os sintomas aparecem: diarreia, febre, astenia (perda ou diminuição da força física), sudorese noturna e perda de peso superior a 10%. Com o passar do tempo, a imunidade vai ficando cada vez mais baixa, favorecendo o surgimento de doenças como hepatites virais, tuberculose, pneumonia, toxoplasmoses e até alguns tipos de câncer.

Diagnóstico e tratamento: o diagnóstico da aids é feito por exame de sangue, e o tratamento se dá com a combinação de medicamentos antirretrovirais (ARV), cujas funções são impedir a multiplicação do HIV no organismo e evitar o enfraquecimento do sistema imunológico para, assim, melhorar a qualidade de vida e prolongar a sobrevida. O paciente precisará tomar os remédios para o resto da vida.

Prevenção: uso de preservativos (feminino ou masculino) em todas as relações sexuais, realização de pré-natal no caso das gestantes, e utilização de seringas e agulhas descartáveis e luvas para manipular feridas e líquidos corporais.

Incidência no Brasil: em 2017, foram diagnosticados 42.420 novos casos de HIV e 37.791 de Aids, com uma taxa de detecção de 18,3/100 mil habitantes. O número de mortes foi de 11.463. De 1980 a junho de 2018, o Ministério da Saúde registrou 982.129 casos de aids.

Hanseníase

O que é: antigamente conhecida como lepra, é uma doença crônica, infectocontagiosa, curável e que acomete, principalmente, pele e nervos periféricos. Ela é causada pelo bacilo Mycobacterium leprae e sua transmissão ocorre pelo contato com a tosse e o espirro, e pelo contato próximo e prolongado com pessoas infectadas.

Sintomas: variam conforme os seis tipos de doença, mas os mais comuns são, segundo o Ministério da Saúde, “manchas esbranquiçadas, avermelhadas ou amarronzadas, em qualquer parte do corpo, aliadas à perda ou alteração de sensibilidade térmica (calor e frio), ao tato e à dor, principalmente nas extremidades das mãos e dos pés, na face, nas orelhas, no tronco, nas nádegas e nas pernas”.

Queda de pelos, ausência de suor, inchaço e diminuição da força dos músculos das mãos e dos pés, febre, edemas, dor nas juntas, atrofia muscular e sangramento do nariz também podem surgir. O agravamento da doença ainda pode causar graves deformações físicas e orais e problemas oculares.

Diagnóstico e tratamento: para diagnosticar a hanseníase é preciso fazer exames clínicos, dermatoneurólogicos e de sensibilidade. O tratamento é ambulatorial (sem a necessidade de internação) e feito com o uso de antibiótico poliquimioterápico. A duração é determinada pelo médico – pode ser de seis meses a dois anos. Com tratamento correto, ininterrupto e feito logo nos estágios iniciais da doença, a hanseníase tem cura. O Ministério da Saúde informa que, durante o tratamento, os pacientes deixam de ser contagiosos e, portanto, não precisam ficar em isolamento.

Prevenção: para não contrair hanseníase é fundamental evitar o contato com pessoas infectadas. Fora isso, quando a doença já está presente, a melhor forma de prevenir a instalação de deficiências e incapacidades físicas é o diagnóstico precoce.

Incidência no Brasil: no período de 2008 a 2016 foram notificados 301.322 casos em todo o país, dos quais 21.666 (7,2%) eram em menores de 15 anos de idade.

Hepatite C

O que é: causada por vírus (HCV), a hepatite C provoca inflamação no fígado. Sua transmissão se dá pelo contato com sangue, por meio de compartilhamento de seringas, agulhas, lâminas de barbear, alicates de unha e outros objetos contaminados. Também pode ocorrer em procedimentos cirúrgicos, odontológicos, hemodiálise, transfusão e endoscopia quando as normas de biossegurança não são aplicadas e, menos comumente, no parto e durante o sexo desprotegido.

Sintomas: nem sempre a doença apresenta sintomas, e muitas vezes eles são inespecíficos, o que torna seu diagnóstico mais difícil. De toda forma, alguns deles são fraqueza, pele e olhos amarelados, urina escura, fezes claras, mal-estar, tontura, vômito e febre baixa.

O Ministério da Saúde informa que quando o vírus persiste por mais de seis meses, o que é comum em até 80% dos casos, caracteriza-se a evolução para a forma crônica. Nessa situação, cerca de 20% dos infectados correm o risco de desenvolver cirrose hepática e, de 1% a 5%, câncer de fígado.

Diagnóstico e tratamento: a hepatite C, diagnosticada através de exame de sangue, tem tratamento com grandes chances de sucesso (de 90% a 95%) quando seguido corretamente. Normalmente, ele é realizado por cerca de três meses com o uso de antivirais de ação direta.

Prevenção: evitar a doença é até fácil: basta não compartilhar itens pessoais, como escova de dente, aparelho de barbear, alicate, seringa e agulha; certificar-se de que os objetos que serão utilizados em salões de beleza e de tatuagem, por exemplo, foram devidamente esterilizados e usar preservativo. Fora isso, toda mulher grávida precisa fazer no pré-natal os exames para detectar a patologia.

Incidência no Brasil: pelos dados do Ministério da Saúde, de 1999 a 2017, foram 200.839 casos da doença – só no ano passado foram 23.070, sendo que mais de 70% das mortes por hepatites virais foram causadas pelo tipo C.

Malária

Mosquito Anopheles stephensi é vetor da malária. — Foto: Jim Gathany/CDC/Reuters

Mosquito Anopheles stephensi é vetor da malária. — Foto: Jim Gathany/CDC/Reuters

O que é: trata-se de uma doença infecciosa febril aguda, não contagiosa, causada por protozoários Plasmodium – há mais de 100 tipos –, transmitidos pela fêmea infectada do mosquito Anopheles.

Sintomas: o principal é febre alta, de 38º ou 39º, com calafrio, tremor e sudorese. Ela pode ocorrer de forma cíclica, indo e voltando a cada três dias, mais ou menos. Antes disso, é comum o paciente sentir náusea, cansaço e falta de apetite. Na forma grave ainda pode haver prostração, alteração da consciência, falta de ar ou hiperventilação, convulsão, hipotensão arterial ou choque e hemorragia.

Diagnóstico e tratamento: após o diagnóstico, feito através de exame de sangue, o tratamento é realizado com medicamentos, sendo que a sua escolha depende de alguns fatores, como espécie do protozoário infectante, gravidade, idade do doente e condições associadas (gravidez e outros problemas de saúde, por exemplo).

Prevenção: ainda não existe vacina contra a malária, mas um grupo de pesquisadores do Centro de Terapia Celular e Molecular da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP) está desenvolvendo uma para combater a forma com maior distribuição geográfica e maior prevalência nas Américas, a vivax.

Enquanto ela não é lançada, o importante é evitar a todo custo ser picado pelo mosquito transmissor – sobretudo na região da Amazônia, onde são registrados 99% dos casos no Brasil. As recomendações pessoais são não se expor no fim da tarde sem proteção; usar roupas de cores claras e que cubram a maior extensão possível do corpo; não passar perfume; aplicar repelente de ação prolongada e instalar mosquiteiro para dormir e telas nas janelas e nas portas. Fora isso, é fundamental desmantelar os locais com água parada, que são os criadouros dos mosquitos.

Incidência no Brasil: em todo o território nacional, dados preliminares do Ministério da Saúde revelam que, de janeiro a setembro de 2018, foram notificados 146.723 casos de malária. Em 2017, foram 194.425 – um aumento de mais de 50% em relação ao ano anterior. Uma hipótese para explicar o crescimento é de que as autoridades tenham “baixado a guarda” contra a doença, após anos de queda nas infecções.

Sífilis

Testes rápidos de HIV, sífilis e hepatites serão realizados em Uberlândia, Minas Gerais — Foto: Prefeitura de Uberlândia/Divulgação

Testes rápidos de HIV, sífilis e hepatites serão realizados em Uberlândia, Minas Gerais — Foto: Prefeitura de Uberlândia/Divulgação

O que é: Infecção Sexualmente Transmissível (IST) exclusiva do ser humano, causada pela bactéria Treponema pallidum. A patologia tem diferentes estágios (primário, secundário, latente e terciário) e dois tipos: adquirida, quando é transmitida pelo sexo sem camisinha com uma pessoa infectada, e congênita, quando é passada para o bebê durante a gestação ou o parto.

Sintomas: assim como acontece com a hepatite C, esta doença praticamente não apresenta sintomas na fase primária. O que pode ocorrer é o surgimento de ferida no pênis, vulva, vagina, colo uterino ou ânus. Na maioria dos casos ela não coça, dói ou arde e se cura sozinha, fazendo com que o infectado não procure o médico.

Na etapa secundária, manchas pelo corpo, febre, mal-estar, dor de cabeça e ínguas são comuns. A latente, dividida entre recente (até 1 ano de infecção) e tardia (mais de 1 ano de infecção), é assintomática.

Já na terciária, os sinais surgem em um período variável de 2 a 40 anos do contágio e incluem lesões em diversos órgãos e tecidos, podendo ter como consequência demência, aneurisma da aorta e artrite, entre outras. No caso da sífilis congênita, os riscos são aborto, má formação do feto e surdez, cegueira, deficiência mental e até morte do bebê ao nascer.

Diagnóstico e tratamento: o teste para diagnóstico da sífilis é simples e rápido, feito por meio de exame de sangue e/ou pela análise laboratorial de lesões na pele. Uma vez confirmada a doença, o tratamento é realizado apenas com penicilina – a dosagem é definida de acordo com o estágio.

Prevenção: a sífilis é prevenida com o uso regular de camisinha (feminina ou masculina) e acompanhamento das gestantes.

Incidência no Brasil: de acordo com os últimos dados do Ministério da Saúde, a taxa de detecção da enfermidade do tipo adquirida passou de 44,1 casos/100.000 habitantes em 2016 para 58,1/100.000 habitantes em 2017. Quando se trata da congênita, no ano retrasado foram 21.183 registros e 195 mortes, e, no passado, 24.666 e 206, respectivamente.

Vacina

De acordo com o Ministério da Saúde, neste momento não há perspectiva de oferta de vacina para qualquer uma dessas doenças pelo Sistema Único de Saúde (SUS), pois ainda não existem no país produtos devidamente registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Em nota, o MS explica que as estratégias de vacinação no Brasil, bem como a inclusão de novas vacinas no Programa Nacional de Imunizações (PNI) e o estabelecimento de grupos populacionais a serem cobertos, são decisões respaldadas em “bases técnicas, científicas e logísticas, evidência epidemiológica, eficácia e segurança”, somadas à garantia da sustentabilidade da estratégia adotada para a vacinação e de custo-benefício econômico: se reduz os custos com tratamentos, hospitalizações, dias de trabalho/estudo perdidos pelo paciente e/ou seus familiares e sobrevida.

Por BBC

Publicidade