Suicídio: Precisamos conversar sobre isso – Por Jornalista Pedro Guilherme

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Há um certo tabu no jornalismo em noticiar suicídio. Não é proibido, como muitos pensam, mas é preciso ter um certo cuidado com a abordagem. São histórias. Tristes, mas ainda histórias. Não gosto de ser mensageiro dessas ocorrências, mas tento entender por que elas acontecem. E fui buscar entender por que Marcelo Moreira, de 52 anos, optou por uma decisão tão drástica na tarde desta quinta-feira, 09.

Todos que o conheciam, disseram que sua história de vida era muito triste. Uma das piores desgraças que vivenciou foi em 22 de dezembro de 2011, a 2 dias da véspera de natal, quando viu seu filho morrer eletrocutado após sair da piscina. João Felipe Souza Moreira, de 15 anos, morreu instantaneamente ao, ainda molhado, mexer em um notebook. O palco da tragédia foi uma chácara de um amigo da família, em Joinville.


Marcelo e seu filho João Felipe, 5 minutos antes da tragédia do dia 22/12/2011.

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Marcelo nunca superou essa perda. Fim de ano era sempre uma tortura para ele. Todo ano, próximo ao natal, tinha que enfrentar a dor de lembrar da morte do filho.

Há pouco tempo, perdeu a mãe, a quem era muito apegado. Não bastasse a dor da perda, a informação que eu obtive é que a genitora deixou uma herança de 12 milhões de reais. Mas Marcelo, que estaria endividado, não colocou a mão nesse dinheiro, motivo pelo qual entrou em pé de guerra com o irmão, que não teria partilhado os bens.

Reitero que as informações são de pessoas que conheciam ele, e não investiguei tão a fundo para confirmá-las.

Na manhã desse fatídico dia, “virado” sem dormir, Marcelo – que estaria afundado nas drogas – foi ao quiosque em frente ao seu condomínio e bebeu seis doses de vodka. Depois, transtornado, brigou com o porteiro (com quem tinha implicância) e com um procurador que mora no edifício. Teria discutido com alguém ao telefone (possivelmente o irmão), falando sobre dívidas, e subiu para o último andar do Camboriú Park Residence, onde fica a piscina do edifício. Cerca de uma hora e meia depois, já não estava mais vivo.

Eu assisti a cena e foi muito tenso. Do heliponto, o ponto mais alto do edifício, o síndico tentava convencê-lo a não pular. Marcelo teria dito que só queria chamar atenção, mas estava bastante transtornado. Não queria ninguém perto e mandava o síndico calar a boca a todo instante. Se ele realmente só queria fazer uma encenação, o “grand finale” seria o momento em que se pendurou. Ele ia desistir de se jogar, mas foi o “ponto sem volta”. O corpo começou a ficar pesado demais. Foi o momento em que ele se arrependeu e se desesperou.

Eu vi, ao vivo, depois confirmei em outros diversos vídeos que foram espalhados pelos grupos de mensagens instantâneas: ele tentou voltar. Pendurado, pegou impulso para tentar retornar. Se esforçou, até as últimas forças. Uma vizinha, que assistiu a cena de binóculos, confirmou que naquele momento o rosto de Marcelo expressava desespero. Não havia ninguém para puxá-lo de volta para cima. Eu só perguntava “Onde estão os socorristas? Onde está todo mundo?”. Não aguentou, e a mão soltou da grade.

Não posso imaginar e nem é possível mensurar a dor que Marcelo sentiu nos últimos oito anos de sua vida, agravada pelos últimos acontecimentos. Mas não era o desfecho que eu esperava. Eu queria ter visto ele desistindo daquela loucura. Eu queria que fosse realmente só encenação para chamar atenção. Eu queria que ele tivesse mais uma oportunidade de enxergar que a vida é o próprio fôlego de Deus.

Por Jornalista Pedro Guilherme

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