Um ano após facada em Jair Bolsonaro, veja como estão os principais envolvidos

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facada que o então candidato Jair Bolsonaro levou durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG) completa um ano nesta sexta-feira (6). Atingido na barriga, o presidente passou por três cirurgias de lá para cá – somou, ao todo 30 dias internado. Uma quarta operação está marcada para este domingo (8).

O autor do atentado é Adélio Bispo de Oliveira, que esfaqueou Bolsonaro na barriga no momento em que o presidenciável era carregado nos ombros de apoiadores no Centro da cidade mineira. O agressor afirmou à Polícia Federal ter agido sozinho, após ouvir o que disse ser um chamado de Deus.

Preso em flagrante no dia do crime, Adélio confessou o crime. O juiz do caso afirmou que ele tem doença mental e é inimputável, ou seja, não pode ser punido criminalmente. A prisão foi convertida em internação por tempo indeterminado. Pela decisão, o agressor deve permanecer num presídio de Campo Grande (MS).

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Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro é socorrido após ser esfaqueado em Juiz de Fora — Foto: FÁBIO MOTTA/ESTADÃO CONTEÚDO

Jair Bolsonaro é socorrido após ser esfaqueado em Juiz de Fora — Foto: FÁBIO MOTTA/ESTADÃO CONTEÚDO

Bolsonaro teve o intestino grosso atingido pela faca, além de três lesões no intestino delgado. A facada atingiu ainda uma veia do abdômen. Desde então, o presidente passou por três cirurgias na região abdominal – e uma quarta está marcada para este domingo (8).

  • 1ª cirurgia — 06/09/2018, na Santa Casa de Juiz de Fora: Bolsonaro chegou ao hospital perdendo muito sangue e passou por uma operação de urgência. Foi feita a sutura das três lesões no intestino delgado e colostomia, procedimento no qual os médicos retiraram a região da lesão no intestino grosso para evitar infecções e colocaram uma bolsa para que as fezes não passassem pelo local.
  • 2ª cirurgia — 12/09/2018, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo: desobstrução intestinal, após os médicos terem reaberto o corte da primeira cirurgia e encontrado uma obstrução de uma alça do intestino delgado; o problema havia sido causado por aderências em áreas inflamadas das paredes do intestino.
  • 3ª cirurgia — 28/01/2019, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo: retirada da bolsa de colostomia; no procedimento, os médicos ligaram novamente as partes do intestino grosso que estavam separadas pela bolsa.
  • 4ª cirurgia — agendada para 08/09/2019 (domingo), no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo: retirada de uma hérnia no lado direito da parede abdominal, perto da cicatriz; o procedimento é considerado de médio porte, e Bolsonaro diz que poderá ficar afastado das funções de presidente por dez dias.

Regularmente, Bolsonaro volta a citar o caso da facada em discursos e entrevistas. Já disse que, se dependesse dele, Adélio iria “mofar na cadeia”. “Segundo os médicos, minha sobrevivência foi um milagre. Muito sofrimento em três cirurgias e, até hoje, sofro as consequências dessa tentativa de execução”, declarou o presidente em depoimento enviado à Justiça.

Em junho, depois da decisão judicial que isentou Adélio Bispo de pena, convertendo a prisão em internação por tempo indeterminado, Bolsonaro afirmou que iria recorrer da decisão, citando que havia um “circo armado”. O presidente, contudo, não recorreu no prazo legal. No mês seguinte, a 3ª Vara Federal em Juiz de Fora anunciou que o processo estava encerrado.

Além disso, em julho Bolsonaro criticou a atuação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no processo judicial que considerou Adélio Bispo inimputável. Segundo Bolsonaro, a entidade impediu o acesso da PF ao telefone de um dos advogados do autor da facada.

Sem ser questionado, citou naquela ocasião o pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz: “Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto para ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Eu conto para ele”.

Adélio Bispo de Oliveira
Adelio Bispo de Oliveira, autor da facada em Jair Bolsonaro — Foto: Reprodução/GloboNews

Adelio Bispo de Oliveira, autor da facada em Jair Bolsonaro — Foto: Reprodução/GloboNews

Adélio Bispo, de 41 anos, foi preso em flagrante no mesmo dia da atentado contra Bolsonaro. Segundo a Polícia Militar de Minas Gerais, ele confessou ter sido o autor da facada. Em depoimento, afirmou que o ataque foi “a mando de Deus”.

Ele foi indiciado por prática de atentado pessoal por inconformismo político, crime previsto na Lei de Segurança Nacional. Dois dias após a facada, ocorreu a transferência de Adélio de Juiz de Fora para um presídio federal de Campo Grande (MS).

O primeiro inquérito da PF concluiu que o agressor agiu sozinho e que a motivação “foi indubitavelmente política”.

Em maio deste ano, a Justiça afirmou que Adélio tem Transtorno Delirante Persistente e é inimputável. Ou seja, em razão da doença mental, não pode ser punido criminalmente.

Em junho, o juiz expediu a sentença dizendo que o autor da facada é “isento de pena” e converteu a prisão preventiva em internação por tempo indeterminado. Pela decisão, Adélio permaneceu no presídio de Campo Grande.

Um segundo inquérito foi aberto para dar continuidade às apurações e eventualmente comprovar “participação de terceiros ou grupos criminosos” no atentado. Em novo interrogatório, em agosto deste ano, Adélio Bispo reafirmou que agiu sozinho.

Em 2 de setembro, a PF pediu à Justiça a prorrogação, por mais 90 dias, desse segundo inquérito. De acordo com o delegado, a solicitação é para que a instituição consiga apurar informações sobre o advogado Zanone Júnior, que defende Adélio.

O único contato que a família teve com Adélio desde a prisão foi uma carta escrita por ele e endereçada a um sobrinho, com quem morou por um tempo e trocava mensagens em redes sociais. Na correspondência, datada de 6 de maio de 2019 e enviada do presídio de Campo Grande, Adélio manifesta o desejo de ser transferido para Montes Claros (MG), sua cidade, e diz que o “presídio é um lugar de maldições”.

Luiz Henrique Borsato – médico de Juiz de Fora
O médico Luiz Henrique Borsato, da Santa Casa de Juiz de Fora — Foto: TV Integração/Reprodução

O médico Luiz Henrique Borsato, da Santa Casa de Juiz de Fora — Foto: TV Integração/Reprodução

Cinco cirurgiões e dois anestesistas trabalharam na primeira operação à qual Bolsonaro se submeteu, ainda em Juiz de Fora. Um deles era o médico Luiz Henrique Borsato, cirurgião do aparelho digestivo.

Em entrevista à TV Integração, afiliada da Globo na Zona da Mata, ele lembra que, naquele 6 de setembro de 2018, chefiava a equipe de plantão da cirurgia-geral da Santa Casa de Juiz de Fora. Perguntado se já havia trabalhado em um caso como o de Bolsonaro antes, respondeu:

“O caso clínico em si, ele não diferiu em nada do que a gente faz no dia a dia em todos esses anos. O que diferiu foi por ser uma pessoa pública. (…) Na verdade, o que foi diferente foi o pós, que foi aquela a repercussão toda. Então, eu tive que dar entrevistas. Eu passei mais tempo dando entrevistas que realizando a cirurgia. Tive que dar depoimento de imediato para a Polícia Federal”.

Sobre a repercussão daquele trabalho em sua carreira, o médico comentou:

“As pessoas me perguntam o que que mudou na minha vida depois disso. Na verdade, no meu cotidiano, nada. A gente tem noção do que representou aquela cirurgia, aquele atendimento, quem é essa pessoa que depois foi eleita presidente da República. Mas a vida cotidiana do hospital, minha, dos colegas, ela continua a mesma. A gente continua trabalhando nos mesmos lugares, atendendo as pessoas da mesma forma”.
“Por um tempo, você faz o ato, fica na mídia, as pessoas te entrevistam, comentam. Mas o tempo abafa um pouquinho a história. E agora, chegando aí perto de completar um ano, a gente volta de novo, as pessoas a perguntam, [você passa] a ser chamado para entrevistas. Mas a vida segue, a vida do hospital seguiu, a vida da cidade seguiu.”

Borsato também foi questionado sobre o fato de haver gente que diz desconfiar da veracidade da facada por causa da suposta ausência de sangue ou corte.

Ele explicou: “Ele [Bolsonaro] teve um ferimento, não foi um ferimento externo, cerca de 3 cm, foi um objeto longo e cortante. Então, para esse objeto atingir a veia intra-abdominal que ocasionou a hemorragia, ele tem que atravessar pele, gordura, uma camada espessa de musculatura. Só aí o objeto penetra no interior do abdômen, onde estão os órgãos do sistema digestivo, vasos sanguíneos”.

O médico conta que apenas “quando a ponta desse objeto lesa essa veia e ele é retirado, o orifício na parede — ele é pequeno e retilíneo —, a musculatura contrai”. “Ele sangra para dentro do abdômen. Essa hemorragia é interna.”

De acordo com o cirurgião, o interior do abdômen tem capacidade para comportar litros de sangue “sem que haja exteriorização do mesmo”. “Então, nesse caso um sangue que pode ter sido visto, alguma coisa em camisa e em roupa, é um sangue do ferimento externo, da pele, da musculatura. Mas o vaso, a veia que é muito profunda, a hemorragia é interna, ele sangra para dentro da cavidade abdominal.”

Antônio Luiz de Macedo – cirurgião de São Paulo
O médico Antônio Luiz Macedo, à esquerda, e o cardiologista Leandro Echenique, da equipe que atendeu Jair Bolsonaro após o atentado — Foto: Reprodução/TV Globo

O médico Antônio Luiz Macedo, à esquerda, e o cardiologista Leandro Echenique, da equipe que atendeu Jair Bolsonaro após o atentado — Foto: Reprodução/TV Globo

O gastroenterologista Antônio Luiz de Macedo, de São Paulo participou do atendimento de Jair Bolsonaro desde a transferência do presidente, quando ele saiu de Juiz de Fora (abaixo, leia mais). Na época, o médico fazia parte da equipe do Hospital Einstein.

No Einstein, Bolsonaro passou por duas cirurgias, todas com Macedo. O médico também estará na quarta, agendada para este domingo e também em São Paulo, mas agora em outro hospital.

Macedo e sua equipe mudaram de instituição em junho, quando passaram a atender na Rede D’Or São Luiz. É no Hospital Vila Nova Star, unidade inaugurada pela rede em maio, que ocorrerá o quarto procedimento.

Victor Sarfatis Metta – advogado
Victor Sarfati Metta, ao lado do presidente Jair Bolsonaro — Foto: Arquivo pessoal

Victor Sarfati Metta, ao lado do presidente Jair Bolsonaro — Foto: Arquivo pessoal

Naquele 6 de setembro de 2018, o advogado Victor Sarfatis Metta estava em uma reunião do PSL, em São Paulo, quando recebeu um vídeo que mostrava Jair Bolsonaro sendo esfaqueado.

Em entrevista ao G1, Metta — que hoje é assessor especial do Ministério da Educação — lembra que procurou Letícia, secretária do partido, e perguntou de que forma poderia ajudar. Depois disso, foi para casa, arrumou uma pequena mochila e saiu para Jundiaí (SP), cidade onde fica o hangar que abriga o avião dele.

“No caminho, lembrei do doutor Macedo”, afirmou, referindo-se ao cirurgião Antônio Luiz de Macedo, de São Paulo, que já o havia atendido talvez pudesse ajudar, avaliando o estado de saúde de Bolsonaro. De Jundiaí. seguiram no avião o próprio Metta, Letícia e Macedo. Foram direto para Juiz de Fora, onde Jair Bolsonaro estava internado na Santa Casa.

“O doutor Macedo assegurou que Bolsonaro estava bem de saúde, mas que deveria ir para outro hospital”, conta o advogado.

Metta acompanhou a saída de Bolsonaro do hospital em Juiz de Fora e o plano de voo até a chegada do então candidato à presidência ao Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Ele, no entanto, não conseguiu entrar porque foi barrado pela segurança do hospital. “Só reencontrei Bolsonaro depois que ele recebeu alta.”

O advogado diz não sentir grandes mudanças em sua vida pessoal desde então. Já era membro do PSL e estava envolvido na campanha presidencial. Desde 2016, tinha amizade com Flávio Bolsonaro, um dos filhos do presidente.

“Eu já vinha muito à Brasília, durante o período de campanha. Mas claro que, depois de tudo o que aconteceu, acabei me aproximando mais no presidente. Mas eu sinto mesmo é muita alegria em poder ter ajudado naquele momento difícil, em ter sido útil”, conta.

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