Univali mandou trocar apenas o título de dissertação “censurada”

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Por Diarinho

Um possível ato de censura acadêmica teria ocorrido na Univali, denunciam professores de alunos. A procuradoria Geral da universidade determinou que referência ao presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) fosse retirada do título de uma dissertação de mestrado.

O nome do trabalho era “Bolsonaro no Divã: A erótica do poder, o desejo e a metástase do gozo nos entremeios das políticas públicas no Brasil”, que faz uma análise das falas do presidente a partir da psicanálise, área de formação da acadêmica.

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A dissertação foi elaborada pela mestranda em gestão de Políticas Públicas da Univali, Neusa Maria Vasel. Pela ordem da Univali, a palavra “Bolsonaro” ou qualquer menção ao presidente deveria ser retirada pra evitar ações judiciais ou sanções contra a instituição e, no argumento da própria Univali, para também preservar a própria aluna.

O DIARINHO teve acesso ao parecer da procuradoria da Univali e, conforme o documento, se a mestranda não fizesse a mudança, o trabalho não poderia ser levado à banca final, que acontecerá na próxima quinta-feira. O título acabou ficando assim: “A erótica do poder, o desejo e a metástase do gozo nos entremeios das políticas públicas no Brasil”.

A dissertação já tinha passado pela banca de qualificação. Foi um membro da banca que orientou a mestranda a acrescentar “Bolsonaro no divã” no título, já que o presidente era o foco da pesquisa. Quando a aluna aguardava pra fazer a defesa da dissertação, a procuradoria barrou o título ligado ao presidente da República.

Ontem, Neusa estava com o telefone celular desligado. O professor Eduardo Guerini, coorientador de Neusa e colaborador do programa de mestrado em Políticas Públicas da Univali, conta que o título foi questionado pela coordenação do curso e, por isso, o caso foi levado à procuradoria da Univali.

Para ele, a medida representa uma interferência nunca vista no programa de pós-graduação da universidade. “Não é prática da coordenação intervir na liberdade de cátedra e na expressão criativa dos mestrandos”, afirmou.

Eduardo Guerini explica que o trabalho aborda falas de Bolsonaro, dos filhos dele e do ideólogo Olavo de Carvalho, numa linha de pesquisa que é comum na análise do discurso político. A queixa da coordenação se ateve ao título e, no entender de Guerini, a procuradoria coagiu a estudante a mudar. “Foi uma recomendação de tutela com um viés de censura”, acusa.

O coorientador diz que a mestranda acatou a alteração pra garantir a publicação do ato regimental que antecede a defesa da dissertação, marcada pra quinta-feira, mas que ela vai se manifestar dizendo que foi censurada. Segundo ele, o caso gerou estresse emocional para a mestranda, que está se preparando pra defesa da dissertação. Ele explicou que ela não quer falar sobre o assunto até a apresentação do trabalho

Segundo o DIARINHO apurou, estudantes estão organizando um ato contra a ação da Univali no dia da apresentação.

Nega a censura

Em nota, a Univali negou haver censura no caso. A instituição destacou que, após “criteriosa análise” da procuradoria, foi recomendado tão somente a alteração de pequeno trecho do título, sem interferência no conteúdo. “(…) no objetivo de preservar a aluna, sua professora orientadora, bem como a própria instituição de possíveis implicações jurídicas futuras”, argumenta a instituição.

“A Universidade do Vale do Itajaí reitera seus valores de respeito à pluralidade ideias e à livre expressão dos indivíduos, de forma ética no relacionamento, e na formação de profissionais de vanguarda”, encerra o esclarecimento.

De acordo com o parecer da procuradoria geral da Univali, o direito à liberdade de expressão não é absoluto e não pode violar outros direitos. Na recomendação à mestranda, o órgão anotou que o trabalho científico carrega o nome da universidade. Foi ressaltado que a instituição “pode ser co-responsabilizada em eventual ação de indenização por danos materiais e morais por parte da mais alta autoridade estatal do Brasil”. O jurídico da Univali também alertou sobre “outras eventuais sanções diretas ou indiretas a esta instituição de ensino”.

A procuradoria ainda considerou na recomendação a “absoluta neutralidade político-partidária da fundação Univali e da universidade do Vale do Itajaí, bem como seu incondicional respeito às autoridades públicas constituídas”.

O DIARINHO não conseguiu contato ontem com a orientadora de Neusa, Micheline Ramos de Oliveira, e nem com a coordenadora do mestrado em Gestão de Políticas Públicas, Maria Glória Dittrich.

 

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