Mais do que um problema ambiental, a poluição do Rio Camboriú tem se tornado um problema de saúde pública pelo nível esgoto não tratado que cai em seu curso, tornando o estuário cada vez mais morto.
O Portal Visse? contratou com exclusividade a análise de água de 6 pontos do Rio Camboriú, seus afluentes e córregos, e mostram o nível deplorável que a poluição do rio chegou, sendo diariamente violentado por milhares de litros de esgoto que vem pela rede pluvial.
O resultado é claro. O Rio Camboriú está morrendo e é necessário medidas urgentes para a solução do problema. Até mesmo quem frequenta, pesca e toma banho no Parque Linear, está colocando sua saúde em risco.
O ESTUDO
A coleta, as análises e relatórios das amostras foram feitos pela conceituada Central de Laboratórios de Ensaios Analíticos – CLEAn, da Univali. As coletas foram realizadas na manhã do dia 23 de março de 2023, por técnicos do laboratório, seguindo os protocolos do CONAMA e CONSEMA para o estudo. Os valores usados como referência são estabelecidos conforme Portaria de Consolidação nº 5/2017 (alterada anexo XX Portaria GM/MS nº 888/2021)
Para avaliar a “saúde” da água, vamos levar em consideração os dois principais parâmetros e medidas máximas previstas: Coliformes Fecais (E.Coli Max. 1000/100ml) e Oxigênio Dissolvido (Min. 5,0mg/L) na água. A quantidade de oxigênio dissolvido (oxigenação) é fundamental para a vida na água.
A título de comparação, quando uma praia tem um nível acima de 2500 E.Coli/100ml, ela é considerara uma praia imprópria para banho.
CONFIRA AS COLETAS PONTO A PONTO
RIO PEROBA – O AFLUENTE MAIS POLUÍDO DO RIO CAMBORIÚ
No Rio Peroba foram realizadas duas coletas, em dois pontos diferentes. O primeiro ponto é quando ele entra em Balneário Camboriú através desta galeria da foto acima, o segundo é onde ele desemboca no Rio Camboriú.
No primeiro ponto de coleta as amostras identificaram o alarmante nível de 160.000 E.Coli/100ml. Isso é 160x mais do que o máximo tolerado para cursos de água doce. O nível de oxigênio dissolvido estava em 2,66 mg/L.
No segundo ponto de coleta as amostras identificaram o mesmos 160.000 E.Coli/100ml. O nível de oxigênio dissolvido estava em 3,59 mg/L.
RIO PEQUENO – AFLUENTE CORTA DOIS BAIRROS E CHEGA NO RIO CAMBORIÚ JÁ MORTO
O Rio Pequeno é um afluente do Rio Camboriú que dá o nome ao bairro na região sul da cidade. Ele ainda corta o Bairro São Francisco de Assis (Barranco) e desemboca no Rio Camboriú nos fundos do Condomínio Reserva Camboriú Golf Club.
Neste ponto de coleta as amostras identificaram o nível de 54.000 E.Coli/100ml. Algo em torno de 54x mais do que o máximo tolerado para cursos de água doce. O nível de oxigênio dissolvido estava em 2,92 mg/L.
Recentemente o Portal Visse denunciou e flagrou um hidrojato da prefeitura de Camboriú despejando efluentes em ribeirões que alimentam o Rio Pequeno e possivelmente cooperam para esta poluição.
RIBEIRÃO SANTA REGINA / JARDIM EUROPA
Este ribeirão começa nos fundos do Bairro Santa Regina, passando pelos fundos do Condomínio Caledônia, pela lateral do Loteamento Jardim Europa e desemboca no Rio Camboriú.
Neste ponto de coleta as amostras identificaram o nível de 22.000 E.Coli/100ml. Algo em torno de 22x mais do que o máximo tolerado para cursos de água doce. O nível de oxigênio dissolvido estava em 3,75 mg/L.
O mais grave é que este curso de água desemboca no Rio Camboriú para um trecho acima da captação de água da EMASA, que trata a água para as duas cidades.
CANAL DE DRENAGEM DO SANTA REGINA AO LADO DA BARRAGEM DA EMASA
Este canal de drenagem vem do Bairro Santa Regina e desagua no Rio Camboriú ao lado da Barragem de captação da EMASA, próximo ao Parque Linear. A mancha causada pelo efluente que cai no rio é grande.
Neste ponto de coleta as amostras identificaram o nível de 15.000 E.Coli/100ml. Algo em torno de 15x mais do que o máximo tolerado para cursos de água doce. O nível de oxigênio dissolvido estava em 4,93 mg/L, devido a movimentação de água que tem no entorno. Embora é claro o alto nível de esgoto no canal, os níveis apresentaram uma amostragem “leve”, por conta da mistura com a água que desce pela barragem.
LAGOA DO PARQUE LINEAR
Frequentado por centenas de pessoas diariamente, o Parque Linear é um dos pontos mais movimentados da cidade. Local de Lazer para os cidadãos de Camboriú, também é usado para a prática de pesca para consumo de peixes e camarão, bem como para mergulho.
Neste ponto de coleta as amostras identificaram o nível de 4900 E.Coli/100ml. Bem acima do que o máximo tolerado para cursos de água doce. O nível de oxigênio dissolvido estava em 5,22 mg/L, devido ao chafariz que existe no local.
A contaminação por Coliformes no local também é alta, colocando em risco a saúde das pessoas que tem contato direto com a água da lagoa do parque.
O RIO ESTÁ MORTO
Em Camboriú muito se fala em meio ambiente e responsabilidade ambiental, mas está mais do que na hora de sair do discurso e começar a fazer algo de efetivo para a solução do problema.
A atual administração, que gere a cidade desde janeiro de 2017, continua culpando um recurso de 86 milhões de reais que foi perdido por não apresentarem o projeto dentro do prazo que vencia em dezembro de 2016, mas até agora não mostrou ideias palpáveis para a solução do problema.
Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, a cada um real gasto com saneamento, economiza-se nove em saúde. Portanto é de fundamental importância que alguma coisa seja feita, de maneira urgente, e que os autores sejam responsabilizados.
O QUE DIZ A EMASA
Procurada pela reportagem, questionada sobre o fato de um dos afluentes estarem contaminados com alto nível de coliformes fecais (E.Coli) e desembocarem para cima da captação, a analista química da autarquia, Joanna Ferreira Godinho, respondeu o seguinte:
Quanto isso influencia no tratamento?
“O fato de 1 ponto coletado em um horário específico apresentar um resultado 22 vezes superior à 1.000 e. Coli/100 mL não significa que isso ocorre durante todos os dias em todos os horários. A falta de saneamento e os malefícios que este causam sobre o tratamento de água devem ser analisados primeiramente ao longo dos últimos anos e através do consumo dos produtos químicos, para traduzir quais os impactos que isso gera.”
A EMASA esta a par desses problemas e da poluição causada pela falta de saneamento na cidade de Camboriú?
“Sim, a Emasa por fazer um controle diário do tratamento de água, conforme a Portaria 888/2021, verifica diariamente e, a cada duas horas, a dosagem dos produtos químicos para tratar e desinfectar a água.
No entanto, em razão da queda de qualidade da água do rio Camboriú, um estudo de tratabilidade foi contratado em 2021, para mapear as unidades que requerem melhoria para priorizar a qualidade da água e saúde pública, uma vez que a redução da qualidade da água bruta ocasionada pela falta de saneamento de Camboriú, bem como, o crescimento dos bairros acima da captação, tem causado variações em matéria orgânica, DBO, DQO, Coliformes totais e Escherichia Coli.”
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