A concessionária Águas de Camboriú que opera a distribuição de água tratada no município de Camboriú, emitiu um material pedindo para que os moradores armazenem água, algo que seria obrigação da própria concessionária.
No texto, a empresa alega que com o alto consumo no Natal e Ano Novo, é necessário que os moradores mantenham a caixa d’água sempre cheia. O que é uma controvérsia, uma vez que a água que os moradores recebem e deveriam armazenar, é distribuído pela própria concessionária.
O texto traz a seguinte pontuação: “Mesmo com todos os investimentos da concessionária, a coordenadora de operações Alana Lassen lembra que manter a reservação adequada é fundamental neste período. Isso porque, caso o serviço de abastecimento sofra precariedade ou baixa pressão, imóveis equipados com reservatórios corretamente dimensionados dificilmente vão sentir os efeitos da falta de água.”
Em um outro texto em que a empresa fala do “Plano Verão”, ela diz que trabalha com 25 boosters (bomba de água) para distribuição e uma reservação total de 5 milhões de litros de água. Se ela trabalha com esses equipamentos para distribuição, qualquer precariedade e baixa pressão, é por culpa da própria concessionária.
CÁLCULOS BÁSICOS
Vale lembrar que para uma cidade como Camboriú, com quase 100 mil habitantes e tendo esse número quase dobrado no período, 5 milhões de litros é muito pouco no que diz respeito a reservatórios. Só a título de comparação, Balneário Camboriú tem capacidade para armazenar 21 milhões de litros de água.
O próprio texto da concessionária diz que a média de consumo diário equivale a aproximadamente 150 litros por habitante/dia, aumentando cerca de 15% em períodos de calor. Ou seja, cada habitante consome uma média de 172 litros/dia, o que em uma população estimada de 90 mil habitantes são 15,4 milhões de litros por dia.
Sabendo que a EMASA fornece em torno de 180 l/s para a Águas de Camboriú distribuir, a cidade consome em torno de 15,5 milhões de litros de água por dia. A conta não fecha e alguém com certeza está ficando sem água.
Se a empresa tem uma reservação de 5 milhões de litros, em caso de um problema generalizado, a capacidade de armazenamento da Águas de Camboriú abasteceria a cidade por 8 horas aproximadamente. E a conta não fecha mais uma vez. Sem contar que os reservatórios são bem distantes um do outro.
ARMAZENAMENTO
O fato é que Camboriú, através de sua concessionária, não tem capacidade de armazenamento de água tratada o bastante para atender a população em alguma pane. Sem contar que a maior parte da distribuição é feita por bombas. Ou seja, se falta luz em alguma região, mesmo tendo água na rede, ela não chega ao destino. Algo que não aconteceria se houvesse reservatório o suficiente pois, além de reservar, eles ajudam a pressurizar a rede através da gravidade, sem a necessidade de bombas.
O contrato da Águas de Camboriú prevê um cronograma de investimentos e isso não está sendo cumprido, nem mesmo fiscalizado como deveria. Pouco é feito para realmente resolver o problema de abastecimento na cidade, e falta de dinheiro não é.
O grupo AEGEA, que controla a Águas de Camboriú, comprou a CORSAN do Rio Grande do Sul, pela bagatela de 4 bilhões de reais. A CORSAN é como a extinta CASAN de Santa Catarina.
Enquanto isso, a empresa segue pedindo para a população fazer o que deveria ser obrigação dela.
Águas de Camboriú pede aos moradores o que eles não são capazes de fazer
Poucas e Boas – Por Gian Del Sent